Bienal
Bienal Black art – À treze anos atrás quando me formei em artes e durante os anos de formação. Fiz de tudo para entrar em algum salão de arte, ou fazer exposições em galerias. Esses eram os dois caminhos que eram ensinados na graduação para se entrar no “Circuito”. No entanto, o que não falavam é que este caminho era mais indicados para quem tinha algum contato, era filho, amigo, ou neto de alguém importante. Pois, de outra forma seria bem complicado.
Claro, você também poderia fazer um trabalho da moda e aproveitar alguma onda com um trabalho insipido, mas que chamasse atenção. Em 2008, 2009 era o grafite, mas o grafite feito por pessoas brancas, que eram capturadas pelo mercado de galerias ávidas por trabalhos com cara de “Rua”.
Mudando o Jogo?
No meu caso, minha arte estava em um conflito, que eu nem mesmo sabia enxergar na época. Existiam alguns tabus visuais e teóricos que não se falava na época. Inconscientemente minha produção imagética e temática era muito eurocêntrica, caucasiana. Pois as mídias tinham me ensinado que a branquitude era o padrão. o Ser branco era o humano correto, enquanto fazer uma arte que se parecesse comigo, seria uma arte identitária e panfletária. Não seria uma arte plural. Vejam Só!
Desta forma enquanto artista negro reproduzindo padrões brancos, minha arte não tinha a potência suficiente nem parar chamar atenção pela rebeldia, nem para agradar os brancos que queriam algo mais palatável.
Então, foi com bastante alegria que recebi a noticia de ser selecionado para a Bienal Black Brazil Art. Uma seleção feita por uma curadoria negra, refletindo sobre um tema da existência negra.
Ou seja, uma completa quebra do paradigma que vivi e aprendi, no meu inicio de carreira.
Atualmente, existem muitos curadores, e os espaços expositivos estão se abrindo, mesmo que bem lentamente. Para quebrar as barreiras que o racismo estrutural criam para barrar a arte de artistas negros que falam sobre ser negro no brasil e no mundo.
A Mostra
Uma mostra de artistas negros, pensada por curadores negras, em uma instituição negra. A cinco anos atrás isso era quase impossível, hoje foi uma realidade. Na mostra virtual duas de minhas pinturas – A “Ela tinha sonhos, mas quem vive deles?” e “No Fim, nossas memórias são Inimigas”.
Assim, Mais feliz ainda de participar com minha irmã nessa mostra. Que por conta da pandemia, foi apenas uma montagem online. O ponto positivo é que a exposição pode ser vista na página da Bienal.
As duas pinturas que fiz mostram uma mudança na minha forma de criar imagens e também nos simbolismos empregados.
Durante a faculdade e alguns anos após me formar, utilizei muitas referências à pintores europeus como Dali, Magritti, De Chirico. E nos últimos anos, estudando mais sobre a negritude e refletindo mais sobre essa imposição europeia no meu inconsciente, fui mudando as formas de registros e referências visuais para meus trabalhos.
A mostra teve seu período no primeiro bimestre de 2022, com a participação de vários artistas, palestras, e videoconferências. Uma ótima maneira de fomentar a arte preta e movimentar o mercado.
Um longo caminho
Portanto, Para esse ano estou desenvolvendo novos trabalhos que exploram artistas negros. Basquiat e Bispo de Rosário, relacionando minha produção e pesquisa como a carga que esses dois potentes homens negros trazem em seus trabalhos.
Assim, um longo caminho ainda a seguir para me livrar ou ainda. Utilizar de forma critica essa carga e influencia do cânone eurocêntrico que ainda hoje e que por muito tempo ainda vai comandar o cenário artístico.