No texto “Ser ou não ser um artista negro” comentei um pouco sobre a figura ambígua de Basquiat e apontei o ambiente em que ele estava inserido como o principal fator pela sua morte prematura. Neste post vou falar mais da minha pesquisa visual sobre seu trabalho e também como essa pergunta “quem matou Basquiat” foi a linha guia dessa série de desenhos.
O contexto que massacra
O racismo estrutural é o grande vilão para mente de qualquer pessoa preta na nossa sociedade atual. Atualmente, vários estudos estão sendo feitos nesse sentido. Buscando analisar como isso nos afeta diariamente. Minando nossa autoestima, ferindo nossa autoimagem e gerando diversas neuroses e inseguranças sobre nossas escolhas na vida e na carreira.
A pressão de ter que ser “3 vezes melhor que um branco”, o medo de ser ridicularizado por nos mostrar em qualquer campo. Principalmente o medo de errar, pois cada erro que cometemos é ampliado enormemente como um fracasso completo.
Imaginar esse ambiente de frustração de quebrar a bolha do racismo e ser aceito no circuito de arte como um gênio, e ao mesmo tempo não ter nada para si mesmo… tentando jogar o jogo, mas se vendo roubado de todas as formas. Sozinho entre hienas querendo sua carniça. Foi partindo desse lugar que revisitei os trabalhos de Basquiat.
Analisando sua maneira de construir com apagamentos, rasuras, rabiscos sobre textos, listas, linhas imprecisas e sua liberdade na representação de objetos, corpos e lugares. Percebi a importância do acaso, do erro e também das camadas em sua produção. Buscando resgatar bastante da estética dos muros, da pixação e de objetos encontrados. Não buscar a beleza, e sim a sujeira e a acumulação. São aspectos da busca antissistema do artista que busquei incorporar nessa nova pesquisa.
Linhas, sobreposição e ambiente chapado
Nos três primeiros trabalhos busquei a referência de composição em quadros derivados de quadrinhos que Basquiat gostava de construir suas pinturas. Sempre separados em blocos de elementos, sobrepondo texto, imagens, linhas e manchas. A anatomia e o corpo humano, tão importantes em seus trabalhos se relaciona também com minha pesquisa sobre a relação de desconstrução e fragmentação do indivíduo preto.
Nessas composições iniciais evitei criar um ambiente tridimensional. Preferindo compor os elementos dos desenhos de forma a não revelar uma espacialidade. Tudo se organiza de maneira chapada organizados horizontal e verticalmente.
Também busquei relacionar três formas de representação que gosto bastante. As mais simbólicas pelas silhuetas; as mais realistas pela luz e sombra do grafite; e por último, a linearidade das hachuras.
Cor, profundidade e simbolismos
Continuando a pesquisa, no segundo trio de desenhos investiguei outros aspectos. Primeiro a cor, trazer áreas mais coloridas foi uma escolha de novos caminhos. Além de uma busca por profundidade na ambientação e organização dos elementos. Existe a sobreposição de quadros, porém menos blocados e adicionando sombra projetada e sólidos geométricos inspirados nas caixas que Basquiat usava em suas pinturas.
Materiais
Nesses trabalhos usei bastante nanquim, tinta guache, canetas especiais branca e dourada, marcadores, aquarela, grafite e carvão.
A variada mistura de materiais ajuda na simulação de texturas, manchas e no acaso da sujeira.
Próximos passos
Agora pretendo seguir para outras pesquisas e desenvolver outros projetos, porém sem dúvida esses novos trabalhos incorporaram novas formas de expressão ao meu processo de criação e vou aproveitar bastante nas próximas produções. Tentaram matar Basquiat, mas ele vive.
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