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Exposição Fazer Faz Corpo

Olá a todos! Começamos o ano com uma exposição!

Muito feliz de poder me dedicar ao meu trabalho artístico e estar em diálogo com outros artistas e públicos diferentes.

A mostra Fazer faz Corpo fica aberta de 8/02 até 8/3 de 2024, na Galeria Quarta Parede. Ela faz parte do Projeto Bússola. Concebido e executado por André A. Fernandes e Renato Almeida, o edital que selecionou três artistas (Eu, Ana Freitas e Eduardo Baltazar), tinha a proposta de um acompanhamento artístico dedicado, e que ao final pudéssemos produzir um trabalho novo, derivado da experiência do programa.

No fim do post deixo todos os detalhes de horários, curadores e links sobre a mostra.

Projeto Bússola

Ao longo dos encontros, tivemos conversas profundas sobre nossas produções e reflexões complexas sobre o fazer, estratégias, temáticas, e as escolhas de um trabalho especifico, o que nos levava a discussões densas sobre arte, o artista e seu entorno.

A importância do trabalho em grupo, a troca entre os orientadores e orientandos, o ouvir e ser ouvido, foram aspectos importantes para que cada um de nós nos alimentássemos de todo o processo.

Para mim, gerou mudanças e alinhou pensamentos sobre meu fazer, o objetivo das minhas imagens e a busca mais consciente dos elementos que emprego.

O Ponto de partida

Corpo Encanto foi um trabalho produzido entre o ano de 2022. Resultado da pesquisa iniciada em 2020 – Quem Matou Basquiat?, mas que foi fecundada em 2018, depois de minha visita até Inhotim. Que pode ser lida aqui e aqui.  

A partir dessas conjunções começo a ter clareza sobre as marcas da colonialidade e como a História da Arte é na verdade a história da construção da supremacia branca sobre os povos não brancos. E que a partir dessa consciência, me sinto no dever de contestar essa hegemonia. Olhando para os que vieram antes de mim e refletindo quais equipamentos eles tinham e quais tenho agora, para reivindicar todo poder simbólico da arte ocidental, que foi pago com sangue e a vida dos meus antepassados, para ajudar na reconstrução de nossa história.

Partindo do isolamento de três signos da pintura acima: 1. o texto e suas escritas; 2. As plantas e a ligação com cultura afro-diaspóricas e 3. O corpo enclausurado. Parti para exercícios de pensar forma e conteúdo na produção de significados.

Ter consciência de uma imagem parte de vários fatores como por exemplo sua origem: Realidade, memória, imaginação; sua apresentação: concreta, reprodução, imaterial; Sua construção: fotografia, desenho, pintura, digital, objeto tridimensional…

Esses fatores carregam a imagem de indiciais históricos, temporais, filosóficos, culturais, políticos e etc.

Dissecando o fazer

Um elemento da Corpo Encanto que praticamente finalizou o trabalho foi a adição das plantas Piperegum-verde e Guiné-cabloco no canto esquerdo da pintura. O tratamento que busquei era uma referência a pinturas de pano de prato e seu objetivo era trazer a ligação da natureza e das plantas com o existir negro.

Coletando o Herbário

Partindo dele e, indo para o papel, busquei a tradução para o desenho botânico, como um elemento do eurocentrismo, referente as expedições pré-ciência dos naturalista e o registro da natureza por artistas viajantes que vão depois ser atualizados na modernidade pelo estudo da botânica e ergologia.  Neste jogo trouxe o texto relacionando a escrita manuscrita e a escrita tipográfica também contrapondo dois índices de cultura e origem.

A sugestão do Renato e André foi a de levar esse desenho para o suporte direto do pano de prato e neste jogo, o gesto do desenho se une aos índices do suporte.

Por confluência, em casa tenho muitos panos de prato velhos, que apesar de longo tempo de uso não os descarto, por foram presentes e trocas entre minha mãe Regina e minha tia Ana, suas marcas de uso e marcas do tempo sempre me atraíram e esses objetos fazem parte do meu cotidiano de diferentes maneiras e a fatura e uso deles guardam um arte diminuída, a invisibilidade, mas também o cuidar e a presença das mulheres como minha mãe, tia e minha avó Rosa no trabalho de fazer vingar sua prole.

Assim a construção dessa obra tem um profundo valor afetivo, histórico, e diferentes caminhos de aproximação, que se tornaram muito especiais para mim.

O Corpo em Desencanto

O corpo enclausurado é uma temática que trabalho a partir dos objetos “Eu lembro, Eu esqueço” onde bonecas de porcelana interagem em caixas de vidro.

Dessa imagem, e a reflexão da série “Quem Matou Basquiat?” surgiu o corpo na caixa dourada, presente nos desenhos “Dia desses vão te esquecer” e em “Corpo Encanto”.

Explorando esse elemento em isolado, primeiro no grafite, depois na aquarela, e por último no guache, identifiquei algumas potencialidades, e levando para a discussão coletiva, um novo trabalho foi surgindo.

Diante dos acabamentos resultantes, resolvi fazer um outro movimento: Utilizar o corpo simbólico da pintura, para produzir essas imagens.

Para esse trabalho queria trazer a narrativa porém sem o uso do texto. Assim com a fragmentação e composição, busquei relacionar as três telas na construção de uma imagem.

Nesse processo, estava produzindo uma série de desenhos derivados da minha pesquisa “Imagens vestígio” e “Desconversando o Eu” onde também trabalho a fragmentação das imagens para compor um sentido maior. Esse modo de construção também é uma conversa com a composição de Basquiat, onde separando elementos por enquadramentos derivados do quadrinho ele organiza a composição.

Assim, em Corpo em Desencanto a busca por uma estética afro-surrealista se dá pelo contexto. A temática do embate entre o corpo e as influências do cientifico e o mágico estão presentes nas pesquisas que apresento nessa exposição. Diferindo dos estudos, busquei um acabamento da pintura mais liso e com poucas marcas de pincelada, porém trazendo a textura e as manchas para o fundo. Construindo as figuras por camadas e buscando a construção de um ambiente com gravidade, porém pouco peso, com atmosfera, porém pouca profundidade. Construir com poucos elementos uma atmosfera de mistério, uma dimensão de realidade alheia, onde o observador não sabe ao certo onde posicionar seu repertório e nessa busca, se encontre com um sentimento de estranhamento e angustia daquelas composições.

O objetivo da montagem na vertical é utilizar o espaço expositivo de forma consciente do seu papel. Assim como o objeto tela está consciente de si. A pintura não é só o que ele mostra, mas como e onde mostra.

A posição acima dos olhos do observador traz desafios para a visão e o o corpo. Tanto pelo reflexo da luz na tela, quanto pela distorção de perspectiva. Assim como o olhar para cima, conversa com a temática, e a construção de sentido que a relação das três podem proporcionar.

Fiquei contente com o processo da orientação artística, a troca com os colegas e curadores e também com a exposição. Desejo agora que o público aprecie nosso trabalho árduo e vá conferir a mostra pessoalmente. Segue abaixo todos os detalhes e link para a galeria.

Texto Curadoria

A exposição Fazer Faz Corpo reúne três artistas brasileiros que utilizam principalmente a pintura e o desenho como linguagem  Ana Freitas, Diogo Nógue e Eduardo Baltazar – na Galeria Quarta Parede, Vila Mariana, de 8 de fevereiro a 8 de março de 2024. Os três artistas foram selecionados pelo edital Projeto Bússola, concebido e executado pelo pesquisador André Aureliano Fernandes e pelo artista Renato Almeida, no âmbito das atividades do Coletivo Borde, com a finalidade de aprofundar seus processos poéticos.

O título da exposição Fazer Faz Corpo refere-se a dois termos caros: ao fazer manual e ao corpo da pintura. A intenção com o título é destacar diferentes estratégias de abordagem de uma linguagem de longa tradição cujos resultados podem ser observados a seguir.

Ana Freitas apresenta uma pintura sedutora pelo uso das cores que desde o primeiro momento pergunta pelo desenho. Pintura e desenho tensionados entre si se relacionam com o conhecimento científico, que é abstrato, trazendo-o de volta ao concreto, pela forma.

Diogo Nógue cria imagens que tematizam a representação do corpo, assim como práticas e tradições negras. Do corpo no espaço pictórico à mancha no pano de prato, o artista encontra meios de recuperar e inscrever elementos de matriz afro-brasileira em sínteses que associam medicina e religião, sensibilidade e ideia. Tais sínteses dão contorno ao corpo do próprio artista.

Eduardo Baltazar investiga a iluminação baixa para ralentar o tempo, criar um retardamento, por meio de massas de tinta que se acumulam nas bordas e insinuam a figura no centro, cujos valores de cores, com pequenas variações, instituem negativamente o contracampo do próprio olhar do pintor.

Texto dos curadores sobre meu trabalho

Dizer que corpo, práticas e tradições negras são temas da obra de Diogo Nógue seria pouco. É um pouco mais preciso dizer que corpo, práticas e tradições negras situam de um certo modo a experiência do artista no mundo. Esse deslocamento dos termos da arte à experiência cotidiana fornece um certo entendimento dos trabalhos de Diogo Nógue e os colocam em perspectiva política, que é o modo como encontrou para se inscrever nos sistemas das artes contemporâneas, incluindo a palavra literária e a palavra que educa como docente da rede pública do Estado de São Paulo.
Mobilizada de maneira material, simbólica e religiosa em diferentes obras, a representação do corpo negro dialoga criticamente com noções brancas tidas como dadas, apontando elementos da grave violência estrutural, como o encaixotamento do humano em um categoria abstrata, que rouba sua humanidade. A afirmação do corpo negro e do corpo negro como agente político está presente no corpo da pintura. Ela surge aparece em Corpo Encanto (2022) por meio da recuperação simbólica de elementos fragmentados e torna-se central no Tríptico – Corpo em Desencanto (2023-2024), em que uma massa de tinta opera como uma massa corpórea em espaço cúbico ideal. Ali, a categoria é explicitada como caricatura pictórica de uma existência segundo outra perspectiva que não aquela dela mesma.
Nesse sentido, a presença do corpo constitui-se no exercício político de cujos traços e tensões se fazem convidando a todos a olhar a realidade de outro modo. Ao inscrever o corpo negro no debate público, Diogo parece considerar a arte mais do que um conjunto de saberes técnicos estáveis, um instrumento político a que pergunta: para quê tais saberes são úteis? para quem eles falam? falam o quê? propondo um tensionamento político entre o útil e o agradável.
Na série Herbário do Cuidar, Vingar e Refazer (2023-2024), a representação do corpo assume o suporte – o pano de prato – como meio e (pelo menos parte da) mensagem, dando contornos nuançados para as tradições cotidianas. Ervas como erva-cidreira, guiné, anis relacionam não só os cuidados doméstico com o corpo, como também fazem ligação da arte com a medicina e a religiões de matriz afro-brasileiras. As manchas do suporte são índices de história, assim como o bordado alude ao cuidado e às tradições manuais que devem gozar do mesmo estatuto que a pintura. Assim, o artista produz uma genealogia de gestos, práticas, história, dando reconhecimento e contextualizando às suas próprias tradições, como em uma festa que não se extrai simplesmente um elemento como produto, mas se faz compreender no todo. Essa contextualização pode levar à cozinha onde as pessoas conversam e aos quintais onde as plantas vivem, de modo que não é o traço técnico ou a pequena sacada que interessa, mas um conjunto de sínteses de problemas brasileiros complexos que apontam o grupo e somente pelo grupo onde cada um é parte e toma parte é que podem indicar alguma cura.
Em suma, no trabalho de Diogo Nógue, corpo é afirmação de vida, de so- brevivência, não apenas pela cicatriz, mas pelo reconhecimento de práticas tradicionais e de grupo. E, ao dar dignidade à vida cotidiana, produz um movimento que procura por seus meios superar a naturalização da violência e encontrar na arte condições de pensar natureza como linguagem, trazendo consigo percursos históricos que são coletivos e sem o quais não há sentido possível de história.

Serviço

Fazer Faz Corpo

CURADORIA: @andreaureliano e @_renato_almeida_
ARTISTAS: @anafreitas_atelie, @diogonogueart e @_eduardo_baltazar_

Download Catálogo

Galeria Quarta Parede

Horários
Terça: 14h – 18h
Quarta: 10h – 22h
Quinta: 19h – 22h
Sexta: 10h – 18h
Sábado: 10h – 18h
Domingo e Segunda: Fechados

+ 55 11 91437-9720

Av Conselheiro Rodrigues Alves 722
​Vila Mariana – São Paulo – SP
CEP: 04014-002

Rosana Paulino – Arte afro-brasileira e africana em diáspora.

Artista negro e sua época

Rosana Paulino é uma das artistas mais importantes das últimas décadas para se pensar a arte no brasil, sua força e primazia na articulação entre imagens e o espaço expositivo são algumas das características marcantes de sua pesquisa, que, mesmo sem investimentos e financiamento do mercado ou do sistema de arte, segue em produção ininterrupta e pulsante. 

Sua importância se dá não apenas por trazer para o campo da arte contemporânea discussões de linguagens e técnicas inovadoras, mas também por sua existência ser o resultado da luta secular dos africanos da diáspora. Não foi fácil sobreviver nesse território que, por consequência do colonialismo e capitalismos, chamamos de Brasil.

No texto da exposição “Encanto: artevivência da Afro-diápora” recuperei a reflexão filosófica sobre como pensamos a realidade a partir de uma cultura da comunidade. E a partir dessa discussão, como o racismo estrutural e a colonialidade moldam nossa percepção de mundo.

Neste processo, enquanto artistas negros ao longo da história da arte brasileira, vemos que o contexto e construção de conceitos e letramentos para a compreensão de mundo em que somos forçados a sobreviver, ditam também tecnologias e estratégias daquele período para combater preconceitos, ou alcançar relativa liberdade.

Quando pensamos nos artistas negros do 1800, como por exemplo Estevão Silva, ser artista era dominar os cânones da academia. Os que assim faziam eram portanto superiores, dotados de uma aura que abrilhantava sua humanidade e como eram vistos pela sociedade. Por outro lado, as pessoas negras eram ditas como sem alma, não humanas e com intelecto inferior perante um homem branco.

Dessa forma, para combater essa narrativa, um homem negro devia mostrar sua capacidade de civilidade, inteligência e humanidade no mesmo território de disputa que era posto pela sociedade violenta, antiética e escravocrata da época. Como a história nos conta, Estevão mesmo ultrapassando esse domínio e dito o melhor pintor de natureza morta entre seus pares da academia, não é condecorado como tal, pois ao fazer isso, o sistema racista estaria se contradizendo.

O domínio da Técnica

Um desafio semelhante se apresenta a Rosana Paulino, em uma outra academia. Com dificuldades adicionais, é uma mulher negra em um ambiente da supremacia do homem branco, que se fundamenta em literaturas criadas por outros homens brancos; que constroem a realidade a partir da visão deles de mundo.   

Como estudante no curso de artes na mais conceituada universidade brasileira – (USP) em um momento de transição na política. Rosana conquistou com seu trabalho e inteligência aliados importantes que colocariam suas pesquisas artísticas em destaque.

Em contexto artístico mundial, e com uma sensibilidade acurada no olhar, Paulino encontra uma fresta para trabalhar a imagem de pessoas negras de forma potente, utilizando a investigação da fotografia e transferências de imagens nos processos da gravura.

Para ser um artista neste período no Brasil, era preciso o domínio de alguma técnica, ou ser de famílias com capital social, cultural ou econômico relevante. Ainda hoje, é muito caro para um artista desenvolver pinturas e esculturas em medidas e materiais apreciados pela história da arte europeia. Assim como os cursos para desenvolvimento das técnicas acadêmicas de representação. O outros caminhos eram ter os contatos certos, estar na academia, e performar a identidade do artista.

Rosana vai encontrar na presença simbólica da fotografia e no domínio da técnica atrelada ao desenvolvimento teórico e intelectual da academia, uma base sólida e incontestável para inserir sua produção no circuito artístico contemporâneo nacional e internacional.

Contexto Politico

Na década de 90 o Brasil ainda fingia viver a democracia racial e social na produção cultural. Mesmo que nas novelas da Globo, principal parâmetro da época, quase não se via pessoas negras a não ser nas novelas de época, romantizando o período escravocrata, ou em papeis de bandidos, empregados e subalternos.

Porém o movimento negro em diferentes frentes, ia contestando essa estrutura racista, e causando constrangimento para a branquitude.

Contra tudo e contra todos, famílias negras estavam conseguindo colocar alguns de seus filhos na universidade, estudar era a via mais segura de escapar ao extermínio, mas não garantia nada.

Desta forma, era impossível ignorar a produção de Paulino, e nem ao menos podiam diminui-la, já que a artista dominava os parâmetros exigidos pela sociedade branca. A escrita de uma pesquisa e domínio da base teórica europeia (Impediam de taxa-la de Naif); O domínio da linguagem e da técnica em coerência com um discurso atual e potente a tornavam impossível de desqualificar enquanto produção de arte contemporânea.

Ao longo de sua produção, Rosana Paulino evidencia estratégias de produzir arte enquanto um artista negro que passa inicialmente por uma arte afro-brasileira, mas que aponta ao meu ver, para que artistas negros produzam uma arte africana da diáspora.

Tendo como objetivo, talvez em um futuro, que possamos ter uma nacionalidade e identidade de território que não seja marcada pela violência colonial. Mas sim, uma reconstrução cultural e simbólica, resgatadas por nós e para nós, pessoas negras e indigenas.

A cultura Hip-Hop e a denuncia

Como Rosana mesmo diz em entrevistas e palestras, não tinha referências enquanto mulher negra, de outras artistas e pesquisas no Brasil ou fora dele. Num período pré internet, era muito difícil conseguir informações.

Aa tradição academia, exige um ancoramento bibliográfico, seja na história da arte europeia ou em teóricos das ciências acadêmicas. Desta forma além de textos de antropologia, biologia e história, Rosana vai encontrar no movimento Hip-Hop e no Rap, conceitos que levará para a sua arte. Discutir de maneira direta as contradições do Brasil, o racismo e a violência contra as mulheres. Remixando imagens e comentando a história oficial brasileira, ela supre esse dogma de referenciar a história da arte ou do país, para contextualizar sua produção.

Por outro lado a arte de Rosana rompe nas palavras dela “a estranha paz sobre racismo na da arte brasileira”, ao mesmo tempo que vai na contra mão das produções que as galerias e museus queriam consagrar naquele momento. Como exemplo os neoconcretos, a arte de uma classe média branca higienizada, camuflada por cores, formas, geometrias de um Brasil que saiu das trevas da ditadura.  

Sem dúvida, esse período da produção de Paulino é uma arte afro-brasileira, misturando o patuá, crochê e o bordado com a imagens de pessoas negras, utilizando a história dos objetos e das imagens para compor sua poética. Além das questões políticas, seu trabalho explora a arte no campo expandido, instalação, e processos complexos de produção de imagens e conceitos simbólicos.

Explicitar o obvio, de maneira direta, se preocupando com a forma e conteúdo, mas sem rodeios, o papo reto, da cultura Hip-Hop, é um dos fatores que torna o trabalhos iniciais de Paulino tão certeiros quanto um Rap dos Racionais. Porém, por ser uma denúncia feita por uma mulher negra, também vão dizer que esta é uma arte indenitária. O que não se diz é que toda arte feita por um homem branco é indenitária e muitas vezes supremacista.

O corpo negro e a violência fotográfica

É inevitável a relação da fotografia e a violência junto ao corpo negro, e como essa linguagem é um dos poucos registros históricos que temos de nossos antepassados. Assim, ao mesmo tempo que essas imagens constroem uma simbologia da desumanização do sujeito negro que é perpetuado no lugar de sofrimento, punição, e roubo da dignidade. Também são nosso terreno de pesquisa sobre o que fomos e de onde viemos.

Ao longo de nossas vidas, o registro de nosso retrato é feito para adentrar no sistema do racismo estrutural do estado brasileiro. Desde a foto do RG, carteira de trabalho, fichas criminais. Porém, muitas famílias negras, a minha por exemplo, dão grande valor ao registro fotográfico. Esta tentativa de evitar o apagamento da nossa história, de preservar memórias, vem muitas vezes do medo desse passado apagado. Enquanto a supremacia branca busca eternizar o individual e separando indivíduos como acima da média. Nossa preocupação é em preservar a história de pessoas comuns, a história dos marginais e normais, são o registro de uma força e resistência de gerações de pessoas negras que lutaram para recuperar o mundo para seus futuros descendentes.

Fora desses momentos em que a fotografia é usada para formatar o sujeito negro: as fotos de nascimento; batizado; aniversários; casamento – são momentos em que as pessoas negras usam para construir a própria memória e a construção da própria história.       

É essa mescla que o trabalho “Parede da Memória” nos traz. O deslocamento da imagem de uma foto 3×4 do universo da padronização de um documento, para a aura única de uma obra de arte. As fotos de batizado e de registros de nascimento que geralmente ficam guardadas em caixas em fundos de guarda-roupas ou gavetas, para a parede de um espaço expositivo público.

A presença da fotografia e seu fator indicial que traz a presença física e factual da existência daquelas pessoas. Apresentadas em espaços que até hoje são frequentados em sua maioria por pessoas brancas, aqueles olhares encarando esse público, é incomodo e denuncia a violência, apartheid e tentativa de apagamento contra nossa população.

Assentamento como ressignificação da violência

Nos trabalhos dos anos seguintes como a instalação “Assentamento” Rosana Paulino vai resgatar a imagens de pessoas negras registradas em momentos de violência. Imagens criadas para afirmar uma desumanização de africanos e utilizadas em pseudociências como a Frenologia. 

Paulino ressalta que nesses trabalhos ela propõe a reconstrução desse sujeito em um novo território, mas que essa reconstrução é marcada pelo trauma, por uma sutura que é feita: Pelo lado do colonizador, para arrancar o máximo de força de trabalho daquele ser humano objetificado. Já pelo escravizado, uma luta por sobrevivência, necessidade de se reconstruir para alguma esperança de futuro.

Criando novas imagens, a partir de um repertório simbólico criado pelo colonizador, o trabalho de Rosana propõe uma reinvenção, busca dar para aquele sujeito retratado uma nova vida, uma existência para além das violências impostas por seus algozes. O resgate da mulher objetificada. Um outro mundo para aquela personagem.

Essa abordagem de ressignificação e uso do corpo negro como provocador contra o apagamento e a pacificação do discurso, vai encabeçar e abrir caminho para uma nova geração de artistas negros, que vão disputar o espaço simbólico da arte e problematizando a ideação de Brasil, brasilidade e de brasileiro. Utilizando essa abordagem da arte afro-brasileira, esses artistas vão trazer nos objetos e materiais artísticos a ligação ancestral e o corpo como presença representativa.

Ironicamente, essa abordagem vai trazer uma crítica racista: de que a arte negra está muito ligada a representação do corpo, ou que é indenitária. Quando na verdade, para a humanidade a representação do corpo é um dos motivos mais explorados em qualquer cultura.

Tal crítica é infundada também, pois os nomes mais representativos da arte afro-brasileira antes de Rosana Paulino eram voltado a geometria e abstracionismo. Como Emanuel Araújo, Mestre Didi e Rubens Valentim.

A partir de Rosana que outros artistas contemporâneos, também incomodados com o sistema racista da história da arte brasileira, vão utilizar representação figurativa como forma de evidenciar o nosso apagamento. Uma conquista do direito de nos representar como imaginamos, e não como querem que nos ver.  

A libertação para uma arte afro diaspórica

Juntamente a sua produção mais conhecida e que faz parte de acervos de Museus importantes do país. Rosana sempre produziu desenhos e gravuras com um traço único com linhas vigorosas e exploração de vegetação, insetos e do corpo feminino. Porém esses trabalhos só passam a ser exibidos com o valor que eles tem, se não estou enganado, a partir da sua exposição individual na Pinacoteca de São Paulo.

Os seus trabalhos que utilizam a fotografia, transferência de imagens e colagens, sempre estão presentes nas exposições de instituições ao longo dos anos; Esta pesquisa, afro-brasileira, que comenta o brasil e o apagamento histórico do negro na nosso sociedade, sempre estão presentes nas curadorias de pessoas brancas. Porém seus desenhos e esculturas eram mais raras de serem vistas até pouco tempo.

Em seus desenhos e gravuras, Rosana explora uma construção de imagens de uma artistas afrodiaspórica, em que o foco não é o Brasil ou o que a colonização fez de nossos corpos, mas de inquietações e dilemas de um ser humano, que não por acaso é uma mulher negra. Seu corpo racializado e sua existência enquanto mulher numa sociedade racista e machista são determinantes para as imagens que Paulino cria, porém por seu tratamento técnico, escolhas representativas, ela coloca no papel imagens inquietantes e propositoras de discussões que vão além das mazelas coloniais ou raciais.

Utilizando o repertório simbólico construído pela branquitude à custa da colonização e escravização de pessoas negras, Paulino busca discutir sua humanidade, e sua existência enquanto um ser humano especifico, mas que pode ser reconhecido por outros. Ou seja, o trabalho maior do artista em si, compartilhar com o mundo suas impressões da realidade que o cerca e o constrói.

Esse caminho apontado por Rosana é um passo além da arte afro-brasileira, que liga a história de pessoas negras apenas ao crime da escravidão. A arte da Afro diáspora, aponta para essa reconstrução desse sujeito transplantado através do oceano. Com suas suturas, mas que não se tornou apenas o que queriam fazer dele. A partir do resgate de fragmentos do que seus ancestrais deixaram, esse sujeito se refaz com o objetivo de construir novos simbolismos para as próximas gerações, sugerir novos caminhos para serem investigados.

As mulheres mangue na 35ª Bienal de São Paulo

A 35ª Bienal de São Paulo com certeza vai deixar sua marca na história da instituição, A “Coreografias do Impossível” trouxe as criações artísticas de diversas culturas não brancas para um espaço que foi historicamente simbolo da supremacia branca e embranquecimento da identidade brasileira.

Dentro dos diversos trabalhos da mostra, a escolha das obras de Rosana Paulino me emocionaram de forma que não estava preparado. Assim como Rosana despertou em mim o pensamento de ser um artista negro, agora, ela apontava os próximos passos para nós, novos artistas, e propõe uma nova abordagem dessa produção da afro-diáspora.

Como já disse, a obra “Parede da memória” utiliza da apropriação de imagens e a presença da fotografia para constranger a branquitude, ao mesmo tempo que ressignifica e resgata simbolismos criando uma memória cultural da existência e resistência das pessoas negras na história da arte afro-brasileira.

Porém a sala com as pinturas “Mulheres Mangue” não é limitada pela discussão racial, ou do colonialismo. É uma obra livre, onde a artista pode discutir a humanidade e singularidades de uma mulher negra, resgatar elementos simbólicos ancestrais e criar imagens potentes para as novas gerações.

O primeiro movimento de Paulino é utilizar a Tela de pintura. Suporte carregado de poder simbólico pela história da arte europeia.  O segundo movimento – o tamanho destas telas. Veja, durante toda sua carreira, Rosana se preocupa com o suporte de suas imagens e os materiais que utiliza. Assim como escolheu o tamanho de pequeno e médio porte. Criações modulares, que permitem uma adaptação de transporte, montagem e de adequação de espaço expositivo.

Logo, a escolha de telas de grande porte, demonstra que Paulino destina aquelas pinturas para espaços da arte específicos – Grandes mostras e grandes museus. Ela também está reivindicando o mesmo local de grandes pintores acadêmicos, que construíam suas alegorias e reinvenções históricas de grande porte para palácios da nobreza.

O terceiro movimento é que Rosana explora o seu desenho na tela, mantendo suas linhas, manchas e gestual que utiliza no papel.

Por último, sua composição, construção figurativa e referências simbólicas são de matrizes africanas. As mulheres mangues são uma construção de uma artista africana da diáspora que está produzindo não para incomodar ou criar um constrangimento da branquitude, mas para exaltar e enriquecer o repertório simbólico imagético de pessoas negras de todo o mundo.

Seu trabalho é um devir da liberdade de pessoas negras em um futuro que buscamos. Onde não somos fadados a discutir o racismo ou as consequências coloniais. Mas exaltando nossa sabedoria ancestral e deixando para as próximas gerações nosso conhecimentos adquiridos, como faziam os Griots. A sonhada liberdade de trazer encantamento, de discutir as dores e alegrias da vida que não são consequências de um trauma marcado por um período histórico mínimo diante da vastidão da nossa existência. Que passeiam por um antes, e vislumbram um depois infinito.

O artista e curador Claudinei Roberto, conta em uma palestra sobre o Sidney Amaral que ao ver o políptico “Incômodo” do artista, Rosana profere que a obra parece muito celebrativa e que parece que a gente já venceu. Segundo Claudinei essa fala reverbera em Amaral e ele estava trabalhando em um desdobramento desse trabalho antes de morrer.

Ao mesmo tempo, imagino, esse devir do vencer, pode ter reverberado também em Paulino, e quem sabe, as mulheres Mangues seja um meio termo desse sentimento.

Encanto: Artevivência da Afro-diáspora

Exposição “Encanto: Artevivência da Afro-Diáspora” Celebrando a Herança Cultural Africana na Arte Contemporânea

A mostra reúne pinturas, objetos, esculturas de 7 artistas, sendo três nascidos em Suzano e 4 da grande São Paulo. Em contextos com as grandes mostras do ano como as “Dos Brasis”, “Mãos – 35 anos da mão afro-brasileira” e a “35ª Bienal de São Paulo”.

Investigando diferentes técnicas incluindo pinturas a óleo, acrílica, giz pastel e até impressões digitais em materiais não convencionais como azulejo e banner. As obras mostram uma variedades de pensamentos, passando por abstracionismo, realismo, apropriação, aplicação de crochê, costura, e colagem de objetos

No meio de outubro, fui chamado para fazer uma exposição em Suzano, cidade onde nasci e lecionei no ensino fundamental por seis anos. O convite veio pelos anos que convivi e estive em conversa com a secretaria de cultura e discussões com os artistas locais.

Com a oportunidade se fazer uma curadoria, ou uma individual, escolhi a primeira opção e aproveitei os cursos e contatos artísticos que fui desenvolvendo ao longo do ano para compor a mostra.

Aline Baliberdin – Katia Souza – Ailarrubi – Diogo Nógue – Beré Magalhães – Daniel Ramos – Elidayana Alexandrino – Bruno Marcitelli

A primeira curadoria

Foi muito interessante pensar o papel da curadoria e exercitar uma proposta de pensamento sobre arte utilizando o trabalho de colegas contemporâneos para ilustrar esse pensamento.

Como artista independente, fui meu próprio curador em diferentes montagens das minhas individuais. E sem duvida, é mais simples desenhar a linha de discurso dos nossos próprios trabalhos. Com a tarefa de buscar artistas que se assemelhassem ao questionamento que ando formulando sobre o que é a arte no contexto atual e como ser um artista negro, escolhi um dos pontos que mais me instigam atualmente. A relação da construção de pensamento da realidade a partir da experiência da diáspora e a busca pelas filosofias epistêmicas africanas que resistiram nesse território.

Nesta minha hipótese, uma das formas de apagamento e dominação das populações negras, foi a negação de seu intelecto e suas construções de realidade, que se davam muito pela relação animista com elementos da natureza. Uma dessas vertentes está sem duvida nas relações sagradas e espirituais que regem o trato com a natureza, objetos fetiche.

Outro resquício dessa epistemologia é a formação de rodas. estar em roda é um ensinamento ancestral que chegou até nós em várias manifestações.

E a terceira é a relação com o alimento e a troca com a terra, essa conversa com o território.

A validação da realidade pela comunidade

Uma outra linha de pensamento que trago para essa mostra é a percepção que enquanto pessoa negra vivendo em uma realidade racista, a minha existência foi moldada para a vida de outras pessoas, negando a minha. A sociedade ensina a pessoas negras que elas tem um lugar determinado, fora do caminho das pessoas brancas, apenas a servindo. E que neste mundo somos inferiores, sem alma, não humanos, e o apagamento da nossa existência se deu por meio da religião católica, das pseudociências racistas e pela usurpação da autoria e criação de tecnologias negras.

Esse processo cria para nós uma realidade paralela, onde existe um véu separando nosso mundo do mundo dos brancos. Em alguns momentos e em alguns países esse véu se tornou uma barreira real, como o apartheid norte americano e Sul africano. Ou as periferias e favelas aqui no Brasil.

Dessas reflexões, criei o texto de parede para a mostra, que vocês podem ler abaixo.

Encanto: Artevivência da Afro-diáspora

A escritora Conceição Evaristo, para definir sua vasta e rica produção literária, vai cunhar o termo “Escrevivência” que define como: “não é a escrita de si, porque esta se esgota no próprio sujeito. Ela carrega a vivência da coletividade.”

Embora cada um de nós, individualmente, absorva o mundo de um jeito único, pelos nossos sentidos. A noção de realidade precisa ser construída no coletivo. 
Assim, vai depender do contexto de uma comunidade e a partir dos parâmetros que esse grupo estabelece para se definir o “verdadeiro”.
Vivendo neste território que chamamos atualmente de Brasil, a existência e leitura de mundo de pessoas negras e indígenas sempre foi invalidada, e ainda mais, demonizada.
Ainda hoje em nossas escolas, na mídia, e nas produções culturais lideradas pelos descendentes dos colonizadores, se aprende a ler o mundo pela perspectiva europeia e cristã. E todo conhecimento fora desse espectro é diminuído ou descartado.
Existe uma relutância em se ver e aceitar qualquer aspecto das culturas Afro, porém a que é mais ultrajada e violentada é a ligação entre a Magia/Encanto e o corpo africano. Sobrevivendo, entretanto, em meio às ciências positivistas que estampam a bandeira, às pseudociências racistas e ao racismo religioso, encontramos outras maneiras de compreender e interpretar a vida.

Em paralelo a uma realidade imposta e suturada por violências como traduz muito bem Rosana Paulino em suas obras. 
A arte consegue compartilhar singularidades e formas de apreender o mundo ao redor. Deslocando e tornando estranho o que achamos comum e verdadeiro, tirando o véu da conformidade que cobre nossa visão. 
Por muito tempo, mesmo a contragosto, as manifestações desses artistas negros foram nichadas e rebaixadas como arte ingênua, arte popular, artesanato e folclore. Mesmo pulsando com vigor na música, dança, festas e no fazer de roupas, pinturas, instrumentos e alegorias.
Mas nós, artistas negros, estamos há muito tempo lutando pelo território simbólico que a arte europeia ergueu a custa da escravização, morte dos nossos antepassados e colonização dos outros continentes. 
Nossa artevivência resiste e, através de uma arqueologia das  filosofias e tecnologias negras, nos conta dessa ligação ancestral da natureza e do mistério de caminhar no mundo.
Reconstruindo, pintando, desenhando, esculpindo, cantando e performando nosso lugar no mundo. Rasgamos o véu que nos separa dessa realidade que nos apaga. Em comunidade (en)cantamos “nós existimos e somos importantes”. 

Artistas Convidados

Participam da mostra os artistas Ailarrubi – utiliza a pintura em tela como uma forma de buscar a permanência das imagens que a tradição europeia criou, porém utilizando a mitologia de terreiro e até jogos de búzios para produzir suas imagens. Beré Magalhães também utiliza a mitologia africana, porém busca uma abordagem do expressionismo abstrato, arte naif e a abstração para compor seus desenhos e pinturas. Daniel Ramos por outro lado, utiliza aplicação de bordado, colagens de objetos como búzios, fotografias e outros tecidos no corpo de suas pinturas. Elidayana Alexandrino investiga o autorretrato, a composição com a fotografia e pintura digital explorando repetição da imagem e espelhamentos, buscando composições inusitadas e a impressão dessas imagens em azulejos, resgatando e re-imaginando a tradição de contar histórias nas cerâmicas portuguesas, mas dessa vez com sua própria história, sendo protagonista. Já May Agontinmé promove uma restauração ancestral, se apropriando de objetos e imagens de santos e entidades que foram sincretizadas entre o catolicismo a umbanda e candomblé e traz para a superfície com o crochê e colagens de tecidos as imagens de orixás negros.

Todos eles com alguma investigação da relação da negritude com a ancestralidade e busca do mágico, do encanto e da mitologia de povos, fon, Youruba e Bantu. Buscando também uma exploração da própria identidade diante disso e buscando a chave das potências.

Além disso a abertura contou com Katia Souza – Terapeuta naturalista vegana, massoterapeuta, guardiã da medicina placentária, alquimista, Doula, Parteira, Capoeirista, cozinheira, e oficineira. Levando o alimento como parte desse conhecimento ancestral, e também como energia vital que nos trouxe até aqui. Foi parte essencial na abertura e celebração desse momento.

Reivindicando o sagrado espaço da arte para todas as nossas potências. também tivemos a música de artistas da diáspora tocando durante o evento.

Suzano

Apesar de não ressaltar em sua história a contribuição negra de forma efusiva, ela é muito importante para esse território, assim como as comunidades indígenas que foram invadidas, mas que deixaram suas marcas na história.

Apesar de eu ter nascido em Suzano, na época, morava na divisa entre São Paulo e Poá, o bairro chamado Cidade Kemel, por esse motivo, a maternidade de Suzano era uma das mais próximas. Minha mãe conta que o parto foi muito dificil, e que ela passou por violências pesadas, como a enfermeira dizendo que ela tinha que empurrar mais forte se não o bebe morreria, e seria culpa dela. Até mesmo subirem e apertarem sua barriga durante o trabalho de parto. Mostrando como o racismo e violência contra corpos negros atravessam todos os momentos de nossas vidas.

Uma das formas de discutir a herança africana nesse território foi com o instalação “Composição – Uruçu – Iemanjá – Adupé” que criei comprando objetos de lojas de artigos religiosos que estão na cidade, em volta do Centro de Cultura. Trazendo a circularidade novamente, as tigelas de oferendas, velas, ervas, e elementos como a água, argila, cachaça, mel e palha. As cores de Exu, Iemanjá e Nanã. Reflito sobre essa cultura e conhecimentos ancestrais que passam por baixo da realidade vigente. De uma cidade conservadora, em que os cristãos fundamentalistas protestantes dominam o pensamento de muitas famílias da região. Mas que ainda guarda muita força das matrizes africanas com terreiros e outras manifestações afro no local.

Localização: Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi –  R. Benjamin Constant, 682 
Horário: das 8h as 19h – Seg a Sab.
Entrada: Gratuita

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Mãos – 35 Anos da Mão afro-brasileira

Em 1988 a nova constituição do Brasil era promulgada, no centenário da suposta “abolição” da escravatura.

Saindo de vinte e quatro anos de regime ditatorial do golpe de 64. Um artista negro, curador e museólogo Emanuel Araújo promove a exposição “A mão afro-brasileira” no MAM para marcar o centenário da lei Aurea e principalmente, o trabalho de homens e mulheres negras que construíram este país.

Um marco icônico e histórico da diáspora africana nesse território. Emanuel mostrou, pelo viés artístico, como as mãos negras, construtoras forçadas dessa nação, resistiram e criaram uma leitura de mundo forte, inovadora, ancestral.

Reunindo artistas que, ao mesmo tempo que se alimentaram do que as diferentes etnias indígenas sabiam desta terra, desenvolveram as suas próprias. Elaborando estratégias e mecanismos de sobrevivência também com a cultura do opressor europeu. Uma delas, a ginga, permitiu transpassar por debaixo de violências e epistemicídios, uma filosofia, história, e tradições com resquícios de uma memória ancestral das nações raptadas e destruídas no continente antigo.

Registrando nomes e a produção intelectual de homens e mulheres negras que, de outra forma, seriam esquecidos e apagados da história deste território colonizado. Emanuel construiu um pedestal, um memorial, um altar para os que vieram antes de nós. Mesmo que ainda incompleta, e incapaz de reunir a grandeza de nossa gente e as diversas vidas e comunidades necessárias para cada um daqueles nomes integrar a exposição, nos deixou um legado firme para sabermos para onde seguir.

A importância dessa mostra é tamanha, que a partir dela, Emanuel criará o Museu Afro-Brasil. Recontando em seu acervo, como protagonistas de nossa história, a visão não do colonizador, genocidas que se proclamam heróis. Mas dos oprimidos, vilipendiados, roubados. Que sobre o projeto do estado brasileiro (de nos aniquilar em alguns séculos), seguiram firmes em busca da liberdade que ainda hoje não veio.

Apenas quatro gerações de afrodescendentes “livres” separavam o crime hediondo do regime escravocrata nessas terra, e mesmo assim, não vivíamos ainda enquanto cidadãos de direito nesse território. Sem terra, sem direito a educação. Com fome, nos alimentando apenas do sonho de nossos antepassados por viver, além da sobrevivência.

Mesmo diante de condições mais que inapropriadas, em diversas áreas, o protagonismo de nossas mãos propôs na pratica e na teoria, a construção de um pais de todos, e não apenas do europeu usurpador.

No anonimato dessa história, meus avós, meus pais, a exemplo de muitos outros negros, sonharam prosperar e serem melhores para o mundo. Provando a nós e a eles, nossa estirpe, fibra e valor. Se negando a cumprir o plano que traçaram para nós. Nunca sozinhos, sempre reflexos de uma comunidade e rede. Que inevitavelmente é atravessada pelas violências, contradições e traumas de nossos tempos. Sem clamar a pureza que a branquitude se diz portadora. Mas apenas a humanidade, que demonstra a filosofias Bantu, Yorubá e Fon, onde nem nossas divindades são perfeitas, nem sempre boas ou má, são o que são, no momento que lhe é pedido.

Herdeiro apenas desse sonho de liberdade, nascia eu em 1988. Junto de uma esperança de um país democrático, que colocasse o negro e o indígena como seu povo de fato, e não apenas intrusos e criminosos, gente de segunda categoria. Ao menos era o que a “Constituição cidadã” pregava em suas leis.

Longe de usufruir dos direitos propostos na constituição, a população negra ainda vive sobre genocídio, gentrificação e processo de apagamento. Porém, uma das conquistas mais importantes foi o acesso de negros e negras a universidade, ainda que na maioria, por um processo liberal que beneficiou os cursos privados. Grande numero de negros passaram a se inserir na academia e deixando de ser objeto de estudo para brancos de classe média e alta, trazendo as discussões sociais, econômicas e politicas para narrativas mais próximas do nosso povo. Resgatando conhecimentos e tecnologias que são de riqueza e inovação grandiosa, mas que era usurpada ou desvalorizada por forasteiros.

Nesse processo de produzir subjetividades e disputar narrativas e simbologias. Estamos nos contrapondo aos processos coloniais e hegemônicos da branquitude que até pouco tempo se denominavam os “normais”, “genéricos” exemplos categóricos da humanidade. Os escolhidos divinos para dominar todos os outros.

A arte então, poderosa por sua natureza de transformar a realidade ao analisá-la e suspende-la. Vive agora um boom, com grandes exposições acontecendo simultaneamente com destaque a produção de artistas negros.

Fazer parte desse momento, e contribuir com minha vida e minha pesquisa no caminho que tantos outros lutaram, foi o objetivo que sonhei aos quatorze anos, durante uma aula de história, buscando compreender qual o sentido da vida, e porque estamos aqui.

Sou testemunha e representante de um legado, dos que sonharam e lutaram antes de mim. E que lá em 1988, foram otimistas o suficiente para gerar uma vida, em busca de um mundo melhor.

Desconversando o Eu e Imagens Vestígio

Presente na mostra está uma montagem da série de desenhos “Desconversando o Eu” feitas em caneta nanquim, marcador sobre papel color set marfim. Pensados para serem apresentados juntos, os desenho “Transformação”, “Não Tente Correr”, Não verás país nenhum” e “Vai morrer Cedo” são resultado da minha pesquisa imagética chamada “Imagens Vestígio” onde através da acumulação de desenhos de observação, imaginação e texto em cadernos que utilizo enquanto me desloco pela cidade.

Por morar na Zona leste de São Paulo e sempre ter trabalhado e estudado em lugares distantes de no mínimo 1h30 de deslocamento por ônibus, metro e trem. Esses cadernos eram formas de continuar pensando em minha produção artística e exercitando o desenho pela observação. Esse processo foi se tornando uma acumulação de imagens fragmentadas, pois o inicio e fim do desenhos eram atravessados, desde o movimento do transporte, fim do percurso, ou a perda do objeto ou pessoa que estava sendo desenhada.

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Diogo Nógue e “Desconversando o Eu” fotos de Daniela Ramiro

As escolhas de materiais foram decorrentes dessa necessidade de mobilidade e praticidade. Desenhando diretamente na caneta, sem esboços e utilizando depois as Hachuras e o vermelho do marcador para compor com manchas, camadas, ou definir pontos de foco na composição. Todos os desenhos dos cadernos estão de certa forma, nunca acabados, pois geralmente eu voltava sobre eles e adicionava algum elemento, e as vezes, a mesma página foi construída com dias, meses ou até anos de diferença entre as imagens retratadas.

Resgatando alguns desses desenhos para pensar sobre a subjetividade do artista, homem cis e negro em 2020, 2021. No contexto da pandemia, e pensando como o racismo estava escancarado e o genocídio negros e indígenas em andamento. Minha preocupação era de não produzir um trabalho que fosse apenas uma consequência do racismo estrutural do Brasil, mas que utilizasse a potência das imagens para encontrar e ressaltar a humanidade das pessoas negras e suas especificidades.

Utilizando as linhas de nanquim e a cor vermelha, ressalto essa violência das imagens, mas também recupero simbologias ancestrais. Busco também fazer referência a outros artistas negros que fizeram parte da minha formação. Como o Octávio Araújo e Sidney Amaral e Trenton Doyle Hancock nessas obras em específico.

O Presente de Claudinei

Fazer parte desse momento, que de certa forma, esta tão ligado ao meu ano de nascimento, e também a minha decisão de encerrar meu trabalho como professor do Ensino fundamental em Suzano e mergulhar inteiramente na arte e na literatura, foi extremamente importante para mim. Acredito que será um divisor de aguas em minha trajetória enquanto artista.

Uma oportunidade única que Claudinei Roberto me presenteou e serei sempre grato. Um outro presente foi de me colocar ao lado das obras de Octávio Araújo. Que como já comentei aqui diversas vezes, foi quem me fez ser um artista visual. E durante a adolescência ficava tardes tentando reproduzir suas litografias como forma de aperfeiçoar meu desenho.
Infelizmente não pude conhecer Araújo em vida, porém, me considero um discípulo de sua produção e um exemplo de excelência artística que desejo alcançar um dia.

Aos meus ancestrais

Por ultimo e o mais importante, chegar até aqui nessa exposição foi um trajeto difícil que só foi possível graça as forças ancestrais que guiaram e protegeram minha família, e meus pais Cicero e Regina que me apoiaram e incentivaram sempre com livros, materiais, mesmo que com poucos recursos. E que deram estabilidade para eu poder estudar e pesquisar minha arte.

Penso minha produção como uma retribuição as lutas das pessoas negras que morreram buscando nossa liberdade. E uma forma de buscar justiça, e ainda o mais importante, plantar sonhos para os que virão chegarem mais longe.

Uma certa enciclopedia

Uma Certa Enciclopédia – Exposição

Em setembro aconteceu a exposição “Uma Certa Enciclopédia” na Galeria Tato, foi uma experiência muito enriquecedora. Esta exposição faz parte do programa Casa Tato, que tem como base unir os artistas das casas 8 e 9 com os trabalhos desenvolvidos no acompanhamento artístico promovido galeria.

Nela contribui com duas pinturas que representam os caminhos atuais da minha pesquisa artística. A primeira delas, intitulada “Desconversando o Eu”, realizada em tinta a óleo sobre algodão, mergulha profundamente na temática do corpo do homem negro. Na obra, o corpo suspenso no espaço da pintura serve como um ponto de discussão sobre os estereótipos do racismo que são impostos a esse corpo, e ao mesmo tempo, busca resgatar a subjetividade desse indivíduo, cuja identidade e humanidade frequentemente são apagadas. Inspirado pelas pesquisas de Sidney Amaral, essa obra é uma homenagem e uma tentativa de dar continuidade ao seu pensamento artístico. No cerne da pintura está a exploração da produção de arte “afro-brasileira” e a desconstrução do que a sociedade racista constrói em relação a esse sujeito.

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A segunda pintura, “IyejiAde – O vale”, parte da série “Quem Matou Basquiat?”, é uma construção rica e densa que explora a acumulação e a sobreposição de símbolos e formas de representação. Nesta obra, retomei elementos da minha série anterior, “De onde os medos crescem”, que se inspirou no trabalho de Octávio Araujo, bem como na figura icônica de Basquiat. Ao longo desse processo, a filosofia Ubuntu – “eu sou porque nós somos” – tornou-se evidente, representando uma reverência aos artistas negros que vieram antes de mim. Dentro de uma perspectiva Afro-surrealista e no desejo de criar uma arte que seja uma expressão “africana da diáspora”, busquei relacionar a ideia de “Encanto” – o mágico – com elementos do meu cotidiano.

IyemejiAde - O Vale - Série Quem Matou Basquiat?

A exposição “Uma Certa Enciclopédia” proporcionou um espaço valioso para explorar questões profundas e sensíveis, contando com a colaboração de produções diversas e instigantes dos meus colegas de Casa Tato 9. Com curadoria de Kátia Salvany, uma das professoras que mais me inspirou durante a graduação na Belas Artes, foi uma oportunidade de compartilhar minhas reflexões e visão de mundo com o público diferente, ao mesmo tempo em que celebro e honro aqueles que vieram antes de mim na jornada. Fico profundamente grato por fazer parte desse evento e pela oportunidade de contribuir para essa enciclopédia viva de expressão artística e cultural.

Fotos de Paulo Pereira – Galeria Tato

afro-surrealismo

O Afro-surrealismo – o deslocamento do negro em um mundo branco.

“Mano… que surreal isso, não tô acreditando no que ta acontecendo!”

Primeiramente, vivendo no Brasil, essa frase é bem comum de ser dita diariamente. Não é difícil sentir a barreira da realidade dilatar diante de situações improváveis, injustas ou permitidas por regras invisíveis. Para uma pessoa negra, então? Uma camada a mais de irrealidade é adicionada em todos os campos da nossa vida. Se uma pessoa negra falar de sua realidade, tudo é afro-surrealismo.

Ou seja, nossas experiências são responsáveis por criar nossa percepção da realidade, muitas vezes nossos filtros sensoriais não são capazes de compreender situações, sensações, imagens, sons e sucessão de fatos. A compreensão do que é realidade é medida de acordo com as nossas crenças e convicções. Apesar de facilmente sermos enganados por nossos sentidos, a autoestima do ser humano e seu ego, lhe diz que a nossa mente e nossos sentidos são parâmetros confiáveis. “Eu vi com esse olhos que a terra há de comer”. “Eu não tinha bebido nada, naquele dia, estava sóbrio, pode confiar!”

Ou seja, acreditamos verdadeiramente em nossa capacidade de sentir a realidade. E essa certeza é uma ilusão em si, criada por nosso cérebro.

A arte como quebra da ilusão

Antes de mais nada, você já se perguntou quando uma ilusão te fez se dar conta da realidade?

Muitas vezes na infância, não temos a capacidade de distinguir o que pode ser ilusão ou engano dos nossos sentidos. Por isso somos tão influenciados por histórias, imagens e sensações. Afinal, indefesos em um mundo desconhecido, os monstros de baixo da cama, fantasmas, o velho do saco, a Kombi dos palhaços ou a loira do banheiro são seres vivos e possíveis para uma mente infantil. Assim como a fada do dente, coelho da pascoa e Papai Noel.

Da mesma forma que não entendemos a existência dos raios, o sol, estrelas, televisão, celular, ou um queijo; Também desconhecemos os mecanismo que podem fazer um vampiro ser ou não real.

Portanto, para mim, é ao entrar em contato com a ilusão, que vamos criando parâmetros para mediar a realidade. E além de ir nos tornando menos ignorantes quanto aos mistérios do mundo. Também vamos tomando conhecimento da falibilidade dos nossos sentidos e como nosso cérebro os traduz.

Ou seja, a arte é um grande fator na quebra da ilusão; Ironicamente, ela faz isso justamente criando simulacros e experiências de realidades, ou percepções de realidades dos outros. Muitas vezes tentei despertar meu chacra, elevar meu KI, despertar meu poder de voar – por influência de desenhos animados; Rezava a noite ante de dormir temendo deus e o inferno; tentava mover objetos com a mente, ou me comunicar por telepatia…

A quebra

Ao falhar em produzir um Hadouken eu aprendi que existe um limite claro entre a imaginação, a ficção dos desenhos animados e o mundo a minha volta. Assim como minha vó vasculhar o banheiro junto comigo em busca do fantasma da loira, me fez enfrentar o meus medos acendendo a luz,

Uma história que ilustra bem essa ideia é a anedota contada sobre a primeira exibição da filmagem de um trem em movimento: Muitas pessoas na plateia saiam correndo da sala, pensando que iam ser atropeladas pelo trem. Mesmo que na época, um vídeo não poderia reproduzir a realidade em cores, sons e texturas, o simples reconhecimento de um objeto veloz indo em sua direção pode fazer seu cérebro acreditar que a cena faz parte do real.

Em suma, através de pinturas, músicas, filmes ou o simples ato de ouvir uma história nos coloca em contato com a percepção do mundo visto, sentido e relatado por um outro alguém. Nesse momento, através da identificação, ou pela descoberta de algo novo, a nossa própria realidade muda. Sendo assim, é nesse eterno embate entre nossa crença de realidade e a realidade além de nós, que podemos quebrar algumas das ilusões que nos rodea.

O Surreal de Octávio Araújo e como me influenciou

Primeiramente, não consigo dizer qual fascínio me veio primeiro em relação a arte. O poder do realismo – Apreender o mundo como ele no desenho, capturar imagens e grava-las no papel? Reproduzir criações artísticas de objetos, estampas e livros? Ou o fantasioso e surreal – Animais encantados, superpoderes, passagens para outros mundos, parar o tempo, voltar ao passado?

desvairo de um iconoclasta
Desvario de um Iconoclasta, 1974 – Octávio Araújo

A pintura acima, de Octávio Araújo, foi uma das primeiras obra de arte que me deixou fascinado e com vontade de pintar e desenhar. Desde que a descobri no livro “A mão Livre” de Philip Hallawell quando tinha 10, 11 anos, tudo mudou para mim. Primeiramente, podemos ver um pouco deslocado do centro, um retrato rasgado, mostrando apenas uma silhueta de um acadêmico, Sua imagem descolada cai sobre um chão de madeira pegando fogo, ladeado de pão, escorpião, rato e um caixa de fosforo. O Fundo da imagem reúne elementos arquitetônicos a imagem de uma mulher como uma musa clássica, ao longe uma paisagem.

Identificação

A primeira coisa que me impressionou foi a técnica da pintura, cores, texturas e representações ultrarrealistas da natureza, objetos e animais. Depois a imagem fantasiosa, metalinguística de pintar uma pintura, as tonalidades de um “dia perfeito”. Por último, lembro até hoje de notar a caixa de fósforos da marca “pinheiro” e o reconhecimento de algo do meu universo presente naquela imagem que pensei ser de longe (no tempo, e no espaço), explodiu minha mente. A partir desse encontro, eu não queria dominar as técnicas de desenho para reproduzir o mundo como ele era, mas sim como eu o sentia. Criando a partir dos elementos da realidade, um novo mundo.

Foi alguns anos depois que descobri que Octávio era um artista negro e brasileiro, ao ver seu retrato na Pinacoteca de São Paulo. E então, com acesso a internet, consegui fazer uma pesquisa mais profunda sobre seus trabalhos, sua vida e fui ainda mais influenciado por sua arte. Até mesmo tentei achar algum contato dele, ao saber que ainda estava vivo na época. Porém não consegui esse encontro.

Intenção – 2003 Diogo Nógue

Foi a partir de Octávio que fui apresentado ao conceito de imagem surreal. Inspirado em suas litografias estudava o desenho em preto e branco com grafite. Assim como Araújo a representação de pessoas brancas como o padrão do meu universo visual ficou muito marcada. Durante muito tempo não notava essa forma de dominação do racismo em meu subconsciente. Mesmo tendo uma família com consciência racial, nascer em uma sociedade em que o negro é excluído da cultura em todos os aspectos, afeta nosso subconsciente e coloca barreiras invisíveis.


o racismo em nossas mentes

Octávio estudou em escolas tradicionais no Brasil e na Europa, e certamente seus materiais de estudo e referência de artistas eram todos brancos. Se casou com uma alemã durante uma de suas moradas por Bolsas de estudos. Sua esposa se tornou sua musa em muitas de suas pinturas. Tentando se inserir no contexto de arte brasileira, talvez sentisse que para ser reconhecido pelo circuito de arte, teria que “ser três vezes melhor que um artista branco”.

Em suas temáticas explorava a mitologia grega com toques esotéricos, metafísicos, alquimistas e eruditos. Deixando escapar em poucos momentos simbolismos da cultura afro. Certamente, era muito doloroso para ele tratar de sua negritude. Ser um “artista negro” é uma escolha nos dias de hoje, porém naquela época, era uma afronta. Ao mesmo tempo que se pedia essa ousadia de grandes negros, também era a armadilha desejada para joga-los no ostracismo. Como homem negro, entendo o quando é frustrante saber que mesmo que tenha algum talento, e um bom trabalho, ainda assim a caminhada é difícil de ser vencida.

Autonegação

Eu em minha adolescência e juventude nos anos 90 e 00 tentava fugir dos estereótipos impostos aos negros por vergonha. Como se me sentisse sempre observado e sempre sendo julgado. Tinha vergonha de sentar perto de outros negros na escola, de ouvir pagode, samba e funk. Tinha medo da capoeira e do candomblé. Mesmo gostando da minha cor, dos meus traços, ainda me achava feio e indesejável. Foi uma trajetória de autoconhecimento perceber essas atitudes e desconstruir essa influência colonizadora e racista em minha vida. Imagino então que para Araújo, crescendo ainda sobre a ditadura, e o duro racismo velado daquela época foi muito mais massacrante.

A imagem da negritude tinha sido estereotipada e apropriada por pintores brancos modernistas. Portinari, por exemplo, para qual Octávio trabalhou como assistente, tinha toda sua produção baseada na representação de “Mulatos, mulatas, e índios” a brasilidade pintada por eles era negra e indígena, porém tinha que ser feita por brancos.

A arte de Heitor dos Prazeres por exemplo: Que retratava a cultura negra, tendo o negro como protagonista e narrador de sua história era nomeada como naif e vista como uma arte menor e folclórica. Enquanto os pintores negros acadêmicos dos 1800 até 1990, mesmo dominando com exímio a técnica, estudando na Europa e etc. Foram sempre renegados e sabotados, pois um negro não poderia ser melhor que um branco em uma área que eles consideravam deles.

Dito isso, e voltando ao ponto desta sessão, a arte de Octávio me intrigou também por essa ausência da negritude em suas criações. Além do domínio técnico, as composições oníricas, as representações de metalinguagem mostrando a ilusão e o deslocamento da realidade, se tornaram a base do meu trabalho.

O Surrealismo em minha arte

Como foi dito no começo, viver em uma sociedade racista enquanto pessoa negra, desloca a nossa realidade de uma forma brutal. Vivemos em um mundo de portas trancadas, barreiras invisíveis e códigos não ditos. Cada pessoa negra vai desenvolvendo estratégias para se deslocar e sobreviver nessa realidade alterada, porém não raro e inevitavelmente, batemos de cara em uma parede invisível ou caímos em um calabouço do racismo que não estávamos preparados.

O medo por ser julgado por nossas roupas, cabelo, cheiro, jeito de andar, cores, acessórios e maquiagem que usamos. Tomamos precauções de segurança como andar com as mãos a vista em lojas, não abrir a bolsa em supermercados, estar sempre com documento, abaixar o capuz ou tirar o boné quando avistamos uma viatura ou policial. São só alguns exemplos de atitudes para prevenir embates contra os brancos. Nos tornamos também ótimos analistas de feições, entonações e comportamentos. Um alarme toca no fundo de nossa consciência quando detectamos certas atitudes.

Cada pessoa responde a essas situações de maneiras diferentes, e muitos, pegos de surpresa, não sabem nem como agir.

Espelho

Assim, refletindo sobre como os artistas Salvador Dali, Magritte e De Chirico influenciaram meu trabalho e instigaram minha imaginação, cheguei a conclusão que pelo estranhamento, quebra de realidade, e o deslocamento da realidade, traduzia uma angustia que sentia sobre minha própria existência no mundo. Portanto, recortes, silhuetas, sombras, reflexos distorcidos, a falta, transparência, espaços desertos, falavam com meu inconsciente e davam forma a uma sensação que palavras não podiam traduzir.

Sendo assim. ao primeiro contato com uma pintura Surreal ou metafisica, nosso cérebro reconhece estruturas, texturas e significados, porém rapidamente tomamos consciência que as coisas estão fora do lugar, um estranhamento e uma quebra da ilusão são notadas. O que nos faz olhar novamente para imagem, e ela se revela para nós, um outro universo.

Seja pela perspectiva, volume, cores, texturas, o que nossa mente traduz como realidade é quebrado. Desta quebra o inconsciente, sentimentos e a leitura simbólica se potencializa. Cria-se uma comunicação da linha dos oráculos, ao mesmo tempo mental e mística.

Essa estratégia se encaixava muito bem com a minha timidez, falta de autoestima e sensação de não pertencimento que não sabia nomear e nem enxergar como consequência de ser negro em um mundo em que era intruso.

Tentar me expressar em enigmas, simbolismos, modos de escrita antiga (como runas), imagens com referência aos pintores surrealistas, e a representação do branco como padrão foram um caminho natural. Foi só no final da minha conclusão de curso na faculdade que comecei a refletir sobre a estética, embasamento teórico e qual seria a relação com minha negritude.

O encontro: Minha arte é Afro-surreal

Na academia aprendemos a nomear as coisas e coloca-las em linhas de pensamentos, famílias, conceitos e territórios. No meu TCC encaixei minha pesquisa na linha entre o romantismo (com uma paixão e fascínio pelo passado – que pra mim se traduzia na busca pelo legado dos meus ancestrais, saber de onde vim e quem foram os que me trouxeram aqui), as composições e temáticas Surrealistas ( a valorização do sonho, memória e teoria psicanalíticas como formas de compreender a mente humana e como se dá a criação de simbolismos) e por último o neoexpressionismo que vai trabalhar uma nova forma de pensar a construção da imagem – utilizando objetos do cotidiano, matéria, terra, vegetação e outros, para compor o corpo pictórico em grandes formatos. Como temática, um mundo de desesperança, reflexo de guerras, mortes, desigualdades. Cheio de cinzas, poeiras, e escombros. Algo muito comum para nós negros.

Como arcabouço teórico essas escolas saciaram meu orientador e também os avaliadores da banca. No entanto, para mim ainda não conseguia definir muito bem em que lugar minha arte atuaria, com quem, como, onde e para quem eu estaria falando.

Então, foi só depois da minha viagem à Inhotim em 2018 e a segunda visita a exposição de Basquiat em Belo Horizonte (episódios que discutir em textos e no video sobre a exposição O que nunca vão apagar) que comecei a construir uma direção para minha arte. Levando em conta ser um artista negro, periférico, independente, hetero, cis no Brasil atual.

Despertar

Um primeiro despertar foi o Afrofuturismo, imaginar possibilidades do povo preto para além das dificuldades do racismo, colonialismo e capitalismo. Mas também existências em que não fomos ceifados. Abriu um novo universo em minha mente. Principalmente na escrita, contar histórias que nascem de uma premissa tão forte como o afrofuturo acendeu uma chama em mim.

Do mesmo modo, essa corrente da cultura pop veio ganhando muito destaque nesta década, o que fez surgir maravilhas como o filme Pantera Negra, divisor de aguas na cultura mainstream do cinema, não só no subgênero de super-heróis. Mas que vai afetar todas as novas gerações. Que diferente de mim e do Octávio Araújo, não serão podadas pela falta de representatividade, ou falta de autoestima com a cultura africana e afro-brasileira.


O segundo despertar veio como uma bomba, após assistir a Série Atlanta – de Donald Glover. Principalmente as duas ultimas temporadas que levantaram discussões por seus roteiros enigmáticos que fugiam da realidade como conhecemos.

Eu já sou fascinado por narrativas assim. Antes de tudo, aqui na américa latina o realismo-mágico foi um movimento potente e inovador na literatura, o qual eu tenho bastante apreço.

Portanto, minha epifania veio ao procurar as discussões sobre a série e encontrar o termo Afro-Surrealismo. Principalmente pela simples adição do prefixo muda tudo e enche de significados. E ainda mais, saber que existe um movimento e um manifesto de outros criadores negros que pensam sobre essa questão e que conseguiram traduzir esse deslocamento das pessoas pretas com a realidade a nossa volta.

Me assustei, era muito obvio. Afro-surrealismo! é isso.

Então, para finalizar, deixo aqui abaixo alguns pedaços do manifesto e o link para o texto completo de D. Scot Miller traduzido por Yuri Costa

Manifesto Afro-surreal

  1. Vimos esses mundos desconhecidos emergirem nos trabalhos de Wifredo Lam, cujas origens afrocubanas inspiram trabalhos que falam de velhos deuses com novos rostos, e nos trabalhos de Jean-Michel Basquiat, que nos deu novos deuses com velhos rostos. Ouvimos este mundo na trompeta-ebó de Roscoe Mitchell e nas letras de MF Doom. […]

2. O Afro-Surreal pressupõe que, além deste mundo visível, há um mundo invisível lutando para se manifestar, e é nosso trabalho revelá-lo. Como os Surrealistas Africanos, Afro-Surrealistas reconhecem que a natureza (inclusive a humana) gera mais experiências surreais do que qualquer outro processo poderia produzir.

3. Afro-Surrealistas recuperam o culto ao passado. Nós revisitamos tradições com novos olhos. nos apropriamos de símbolos da escravidão no século XIX, como Kara Walker, e da colônia do século XVIII, como Yinka Shonibare. Re-apresentamos a “loucura” como visitas dos deuses e reconhecemos a possibilidade da magia. Nós assumimos as obsessões dos antepassados e incitamos o des-conforto, clareando a névoa da inconsciência coletiva enquanto este se manifesta nesses sonhos chamados de cultura.

Chega! Queremos sentir alguma coisa! Queremos chorar em público

Série Pesadelos negros – Diogo Nógue

4. Afro-Surrealistas usam o excesso como única maneira legítima de subversão, a hibridização como forma de desobediência. ´[…] Consortium expressam este extravasamento.
5. Afro-Surrealistas distorcem a realidade em favor do impacto emocional. […] Chega! Queremos sentir alguma coisa! Queremos chorar em público.

6. Afro-Surrealistas se esforçam pelo rococó: o belo, o sensual e o caprichoso. […] cuja observação sobre o corpo negro masculino se aplica à toda cultura e à toda arte: “Não existe imagem objetiva. E não há maneira de observar objetivamente a imagem em si”.

7.[…]

8. Afro-Surrealistas são ambíguos. “Será que sou preto ou branco? Será que sou hétero ou gay? Controvérsia!”
O Afro-Surrealismo rejeita a servidão silenciosa que caracteriza os papéis existentes para afrodescendentes [African Americans], descendentes de asiáticos, latinos, mulheres e pessoas queer. Apenas através da mistura, da fusão e da troca [cross-conversion] entre essas supostas classificações poderá haver esperança de libertação. O Afro-Surrealismo é intersexual, afro-asiático, afrocubano, místico, tolo e profundo

9. […]

10. […]

11. Afro-Surrealistas criam deuses sensuais para destruir belos ícones em ruínas.

Concluindo

Em suma, o afro-surreal é o agora visto pelos olhos das pessoas negras; Uma realidade paralela que vivemos sob domínio e controle da supremacia branca, que tenta usurpar todas nossas invenções e genialidades; O Afro-surreal é uma linguagem para nos comunicar com nossos em uma frequência que os brancos não entendem. Sobretudo, o prefixo Afro cria uma nova dinâmica, resgata nossa origem, nosso passado e nos desperta para nós mesmos. Não deixa dúvidas, não queremos aprovação, não queremos ser aceitos, tolerados. Antes de tudo, queremos ser, nossos e para nós mesmos.

Busca ao tesouro – Diogo Nógue

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Exposição “Meu Corpo que te Abriga”

Meu Corpo que te abriga – No mês de novembro, dia 23, abri uma exposição de desenhos e pinturas na cidade de Santo André.

A princípio, o convite para a exposição no Centro de Formação de Professores Clarice Lispector foi uma ótima surpresa no fim do ano. Assim, fiquei muito feliz pelas mostras que pude participar ao longo de 2022. Duas coletivas cheias de ótimos artistas. Então, foi ótimo finalizar o ano com uma individual.

Tive total liberdade e o espaço para mostra foi bem generoso. Decidi por reunir algumas séries que tinham tudo a ver com a Decolonização (tema das palestras e eventos voltados a professores do EJA na rede).

Ano passado, eu fui convidado para participar de uma palestra em Santo André sobre o mesmo assunto. Porém por conta da pandemia, tivemos que fazer on-line. Desta vez, conseguimos nos encontrar presencialmente. Assim, levar para os professores e alunos da rede uma reflexão que passa pelo meu trabalho como professor no ensino fundamental e também como artista.

Descolonizando o Olhar

Desde o ano passado, e partindo das minhas pesquisas que culminaram na exposição “O que nunca vão apagar” (2020), revisitei minha produção da faculdade e pós formação. E pude ver, criticamente, como minhas referências visuais eram muito caucasianas. Fruto de um repertório visual construído a partir de livros de história da arte, críticos e um currículo eurocêntrico.

Logo, minhas preferências culturais também ficaram muito focadas em gostos brancos, tive que me “desintoxicar” desse meio, frequentando mais polos de cultura negra, ouvindo mais musica, literatura, culinária e arte negra.

Enfim, Foi uma volta as raízes e uma volta a mim mesmo. Deixar de tentar me encaixar em um padrão do que eu achava, era a única forma de parecer um “artista de verdade”.

O Corpo que me abriga

Primeiramente, a investigação da representação do corpo sempre esteve presente em minha arte. Muitos apontavam a questão da violência que as imagens invocavam por se tratar de corpos fragmentados, anatomias com músculos, ossos, e veias aparecendo. Porém, para um artista, assimilar o corpo como um objeto de estudo é algo muito natural, ver as figuras apenas como um motivo para exercitar o gráfico, luz, sombra, linhas e manchas.

Nos anos 90, enquanto crescia, essa violência gráfica era muito comum e muito consumida. Estava fácil na TV, filmes de terror, jogos de videogame, revistas e até em fotos de acidades. Portanto, em meu subconsciente era algo muito normal, algo que para outras pessoas era muito forte.

Dessa forma, quando emprego essa representação para tratar da violência contra o corpo negro, para um publico estruturalmente racista, vira uma arte indenitária. Já que para a branquitude, o homem branco é o genérico, eles não percebem que toda a arte deles é indenitária e, ainda mais, supremacista.

Em síntese, tive que expulsar esse conceito do branco como o genérico e padrão, para enfim, meu corpo me abrigar de forma confortável.

Veja como foi a mostra

Veja o vídeo da montagem da mostra

Serviço

Meu corpo que te abriga – Diogo Nógue
C.F.P Clarice Lispector – Rua Tirol, 248 – Santo André
Visitas de Segunda à Sexta – Horário comercial
Até 10 de dezembro de 2022

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Abertura da exposição “De onde os medos ganham força”

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Abertura “De onde os medos ganham força”

Olá, neste último dia 17/06, teve a abertura da minha exposição em Santos.

Foi uma noite muito agradável e divertida, com presença de convidados especias, música e risadas.

 

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A mostra conta com 13 trabalhos (11 pinturas e 2 desenhos) desenvolvidos entre 2007 a 2014. E trabalham imagens simbólicas do conto De onde os medos crescem na parte principal. Enquanto que a segunda parte da mostra, reuni alguns trabalhos que foram processo da pesquisa e na tentativa de desenvolver um método de criação relacionando as imagens coletadas do mundo com a literatura.

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A exposição fica em exibição até dia 02/07 e todas as telas estão à venda. Acessando a loja do site, você confere todos os detalhes.

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De onde os medos ganham força? – Exposição

Exposição Diogo Nogue

Olá amigos é com prazer que venho anunciar mais essa novidade, finalmente está chegando o dia da minha exposição individual.

A expo chama “De onde os medos ganham força” e vou levar pra ela minhas telas mais recentes, que são continuação das pesquisa em arte contemporânea, sobretudo, pintura contemporânea.

Estou ansioso e trabalhando nos últimos detalhes da montagem, mas faz tempo que esta mostra estava engatilhada e é uma tremenda conquista para mim.

A convocação da Secretaria de Cultura de Santos veio ainda em 2015, após selecionarem meu projeto em banca do Salão de Arte daquele ano. Porém o cronograma dos outros selecionados se estendeu e minha montagem ficou apenas para 2016.

Finalmente chegou.

A pesquisa “De onde os medos crescem” teve inicio no meu projeto de TCC da faculdade. Para ele, escrevi o conto homônimo, inspirado em história de família, da arte, do brasil e misturando conceitos da filosofia, psicologia e do fazer pictórico para gerar relações simbólicas e relações que só a lógica narrativa consegue construir.

Deste conto produzi 4 telas para minha conclusão de curso, elas me renderam nota máxima e também uma indicação para mostra coletiva.

Em 2010 então, junto com mais 10 colegas, participei da exposição “Onze Lições” com as telas desta série.

Posteriormente continuei desenvolvendo a pesquisa e criei outras telas.

A mostra de Santo será a união desse trabalho novo e também as 4 telas iniciais. Portanto é um marco em minha carreira artística, sem dúvida. O nome também é bem significativo, já que os medos começam a crescer quando os anos pós-faculdade vão passando e fica mais difícil manter a produção. Porém a luta não pode parar, por isso sigo sempre acreditando em meu trabalho, sempre desenvolvendo meus conhecimentos teóricos e técnicos para deixar um legado que me orgulhe.

Para mais detalhes da mostra vou deixar o serviço e o link para evento.

 

Página do Evento: www.facebook.com/events/643055199176504/

Serviço:
Exposição “De onde os medos ganham força” – Diogo Nogue
Quando: de 18 de junho a 02 de julho – Abertura 17.6 às 19h
Onde: Centro de Cultura Patrícia Galvão
Endereço: Av. Senador Pinheiro Machado, 48  – 3º Andar – Vila Matias, Santos/SP
Página do artista: www.facebook.com/diogonogueart
Site oficial: www.diogonogue.com.br
Página da Galeria: www.facebook.com/galeriasdesantos
Informações: (13) 32268010

 

 

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