Tag: Pintura

banner-fazer-faz-corpo

Exposição Fazer Faz Corpo

Olá a todos! Começamos o ano com uma exposição!

Muito feliz de poder me dedicar ao meu trabalho artístico e estar em diálogo com outros artistas e públicos diferentes.

A mostra Fazer faz Corpo fica aberta de 8/02 até 8/3 de 2024, na Galeria Quarta Parede. Ela faz parte do Projeto Bússola. Concebido e executado por André A. Fernandes e Renato Almeida, o edital que selecionou três artistas (Eu, Ana Freitas e Eduardo Baltazar), tinha a proposta de um acompanhamento artístico dedicado, e que ao final pudéssemos produzir um trabalho novo, derivado da experiência do programa.

No fim do post deixo todos os detalhes de horários, curadores e links sobre a mostra.

Projeto Bússola

Ao longo dos encontros, tivemos conversas profundas sobre nossas produções e reflexões complexas sobre o fazer, estratégias, temáticas, e as escolhas de um trabalho especifico, o que nos levava a discussões densas sobre arte, o artista e seu entorno.

A importância do trabalho em grupo, a troca entre os orientadores e orientandos, o ouvir e ser ouvido, foram aspectos importantes para que cada um de nós nos alimentássemos de todo o processo.

Para mim, gerou mudanças e alinhou pensamentos sobre meu fazer, o objetivo das minhas imagens e a busca mais consciente dos elementos que emprego.

O Ponto de partida

Corpo Encanto foi um trabalho produzido entre o ano de 2022. Resultado da pesquisa iniciada em 2020 – Quem Matou Basquiat?, mas que foi fecundada em 2018, depois de minha visita até Inhotim. Que pode ser lida aqui e aqui.  

A partir dessas conjunções começo a ter clareza sobre as marcas da colonialidade e como a História da Arte é na verdade a história da construção da supremacia branca sobre os povos não brancos. E que a partir dessa consciência, me sinto no dever de contestar essa hegemonia. Olhando para os que vieram antes de mim e refletindo quais equipamentos eles tinham e quais tenho agora, para reivindicar todo poder simbólico da arte ocidental, que foi pago com sangue e a vida dos meus antepassados, para ajudar na reconstrução de nossa história.

Partindo do isolamento de três signos da pintura acima: 1. o texto e suas escritas; 2. As plantas e a ligação com cultura afro-diaspóricas e 3. O corpo enclausurado. Parti para exercícios de pensar forma e conteúdo na produção de significados.

Ter consciência de uma imagem parte de vários fatores como por exemplo sua origem: Realidade, memória, imaginação; sua apresentação: concreta, reprodução, imaterial; Sua construção: fotografia, desenho, pintura, digital, objeto tridimensional…

Esses fatores carregam a imagem de indiciais históricos, temporais, filosóficos, culturais, políticos e etc.

Dissecando o fazer

Um elemento da Corpo Encanto que praticamente finalizou o trabalho foi a adição das plantas Piperegum-verde e Guiné-cabloco no canto esquerdo da pintura. O tratamento que busquei era uma referência a pinturas de pano de prato e seu objetivo era trazer a ligação da natureza e das plantas com o existir negro.

Coletando o Herbário

Partindo dele e, indo para o papel, busquei a tradução para o desenho botânico, como um elemento do eurocentrismo, referente as expedições pré-ciência dos naturalista e o registro da natureza por artistas viajantes que vão depois ser atualizados na modernidade pelo estudo da botânica e ergologia.  Neste jogo trouxe o texto relacionando a escrita manuscrita e a escrita tipográfica também contrapondo dois índices de cultura e origem.

A sugestão do Renato e André foi a de levar esse desenho para o suporte direto do pano de prato e neste jogo, o gesto do desenho se une aos índices do suporte.

Por confluência, em casa tenho muitos panos de prato velhos, que apesar de longo tempo de uso não os descarto, por foram presentes e trocas entre minha mãe Regina e minha tia Ana, suas marcas de uso e marcas do tempo sempre me atraíram e esses objetos fazem parte do meu cotidiano de diferentes maneiras e a fatura e uso deles guardam um arte diminuída, a invisibilidade, mas também o cuidar e a presença das mulheres como minha mãe, tia e minha avó Rosa no trabalho de fazer vingar sua prole.

Assim a construção dessa obra tem um profundo valor afetivo, histórico, e diferentes caminhos de aproximação, que se tornaram muito especiais para mim.

O Corpo em Desencanto

O corpo enclausurado é uma temática que trabalho a partir dos objetos “Eu lembro, Eu esqueço” onde bonecas de porcelana interagem em caixas de vidro.

Dessa imagem, e a reflexão da série “Quem Matou Basquiat?” surgiu o corpo na caixa dourada, presente nos desenhos “Dia desses vão te esquecer” e em “Corpo Encanto”.

Explorando esse elemento em isolado, primeiro no grafite, depois na aquarela, e por último no guache, identifiquei algumas potencialidades, e levando para a discussão coletiva, um novo trabalho foi surgindo.

Diante dos acabamentos resultantes, resolvi fazer um outro movimento: Utilizar o corpo simbólico da pintura, para produzir essas imagens.

Para esse trabalho queria trazer a narrativa porém sem o uso do texto. Assim com a fragmentação e composição, busquei relacionar as três telas na construção de uma imagem.

Nesse processo, estava produzindo uma série de desenhos derivados da minha pesquisa “Imagens vestígio” e “Desconversando o Eu” onde também trabalho a fragmentação das imagens para compor um sentido maior. Esse modo de construção também é uma conversa com a composição de Basquiat, onde separando elementos por enquadramentos derivados do quadrinho ele organiza a composição.

Assim, em Corpo em Desencanto a busca por uma estética afro-surrealista se dá pelo contexto. A temática do embate entre o corpo e as influências do cientifico e o mágico estão presentes nas pesquisas que apresento nessa exposição. Diferindo dos estudos, busquei um acabamento da pintura mais liso e com poucas marcas de pincelada, porém trazendo a textura e as manchas para o fundo. Construindo as figuras por camadas e buscando a construção de um ambiente com gravidade, porém pouco peso, com atmosfera, porém pouca profundidade. Construir com poucos elementos uma atmosfera de mistério, uma dimensão de realidade alheia, onde o observador não sabe ao certo onde posicionar seu repertório e nessa busca, se encontre com um sentimento de estranhamento e angustia daquelas composições.

O objetivo da montagem na vertical é utilizar o espaço expositivo de forma consciente do seu papel. Assim como o objeto tela está consciente de si. A pintura não é só o que ele mostra, mas como e onde mostra.

A posição acima dos olhos do observador traz desafios para a visão e o o corpo. Tanto pelo reflexo da luz na tela, quanto pela distorção de perspectiva. Assim como o olhar para cima, conversa com a temática, e a construção de sentido que a relação das três podem proporcionar.

Fiquei contente com o processo da orientação artística, a troca com os colegas e curadores e também com a exposição. Desejo agora que o público aprecie nosso trabalho árduo e vá conferir a mostra pessoalmente. Segue abaixo todos os detalhes e link para a galeria.

Texto Curadoria

A exposição Fazer Faz Corpo reúne três artistas brasileiros que utilizam principalmente a pintura e o desenho como linguagem  Ana Freitas, Diogo Nógue e Eduardo Baltazar – na Galeria Quarta Parede, Vila Mariana, de 8 de fevereiro a 8 de março de 2024. Os três artistas foram selecionados pelo edital Projeto Bússola, concebido e executado pelo pesquisador André Aureliano Fernandes e pelo artista Renato Almeida, no âmbito das atividades do Coletivo Borde, com a finalidade de aprofundar seus processos poéticos.

O título da exposição Fazer Faz Corpo refere-se a dois termos caros: ao fazer manual e ao corpo da pintura. A intenção com o título é destacar diferentes estratégias de abordagem de uma linguagem de longa tradição cujos resultados podem ser observados a seguir.

Ana Freitas apresenta uma pintura sedutora pelo uso das cores que desde o primeiro momento pergunta pelo desenho. Pintura e desenho tensionados entre si se relacionam com o conhecimento científico, que é abstrato, trazendo-o de volta ao concreto, pela forma.

Diogo Nógue cria imagens que tematizam a representação do corpo, assim como práticas e tradições negras. Do corpo no espaço pictórico à mancha no pano de prato, o artista encontra meios de recuperar e inscrever elementos de matriz afro-brasileira em sínteses que associam medicina e religião, sensibilidade e ideia. Tais sínteses dão contorno ao corpo do próprio artista.

Eduardo Baltazar investiga a iluminação baixa para ralentar o tempo, criar um retardamento, por meio de massas de tinta que se acumulam nas bordas e insinuam a figura no centro, cujos valores de cores, com pequenas variações, instituem negativamente o contracampo do próprio olhar do pintor.

Texto dos curadores sobre meu trabalho

Dizer que corpo, práticas e tradições negras são temas da obra de Diogo Nógue seria pouco. É um pouco mais preciso dizer que corpo, práticas e tradições negras situam de um certo modo a experiência do artista no mundo. Esse deslocamento dos termos da arte à experiência cotidiana fornece um certo entendimento dos trabalhos de Diogo Nógue e os colocam em perspectiva política, que é o modo como encontrou para se inscrever nos sistemas das artes contemporâneas, incluindo a palavra literária e a palavra que educa como docente da rede pública do Estado de São Paulo.
Mobilizada de maneira material, simbólica e religiosa em diferentes obras, a representação do corpo negro dialoga criticamente com noções brancas tidas como dadas, apontando elementos da grave violência estrutural, como o encaixotamento do humano em um categoria abstrata, que rouba sua humanidade. A afirmação do corpo negro e do corpo negro como agente político está presente no corpo da pintura. Ela surge aparece em Corpo Encanto (2022) por meio da recuperação simbólica de elementos fragmentados e torna-se central no Tríptico – Corpo em Desencanto (2023-2024), em que uma massa de tinta opera como uma massa corpórea em espaço cúbico ideal. Ali, a categoria é explicitada como caricatura pictórica de uma existência segundo outra perspectiva que não aquela dela mesma.
Nesse sentido, a presença do corpo constitui-se no exercício político de cujos traços e tensões se fazem convidando a todos a olhar a realidade de outro modo. Ao inscrever o corpo negro no debate público, Diogo parece considerar a arte mais do que um conjunto de saberes técnicos estáveis, um instrumento político a que pergunta: para quê tais saberes são úteis? para quem eles falam? falam o quê? propondo um tensionamento político entre o útil e o agradável.
Na série Herbário do Cuidar, Vingar e Refazer (2023-2024), a representação do corpo assume o suporte – o pano de prato – como meio e (pelo menos parte da) mensagem, dando contornos nuançados para as tradições cotidianas. Ervas como erva-cidreira, guiné, anis relacionam não só os cuidados doméstico com o corpo, como também fazem ligação da arte com a medicina e a religiões de matriz afro-brasileiras. As manchas do suporte são índices de história, assim como o bordado alude ao cuidado e às tradições manuais que devem gozar do mesmo estatuto que a pintura. Assim, o artista produz uma genealogia de gestos, práticas, história, dando reconhecimento e contextualizando às suas próprias tradições, como em uma festa que não se extrai simplesmente um elemento como produto, mas se faz compreender no todo. Essa contextualização pode levar à cozinha onde as pessoas conversam e aos quintais onde as plantas vivem, de modo que não é o traço técnico ou a pequena sacada que interessa, mas um conjunto de sínteses de problemas brasileiros complexos que apontam o grupo e somente pelo grupo onde cada um é parte e toma parte é que podem indicar alguma cura.
Em suma, no trabalho de Diogo Nógue, corpo é afirmação de vida, de so- brevivência, não apenas pela cicatriz, mas pelo reconhecimento de práticas tradicionais e de grupo. E, ao dar dignidade à vida cotidiana, produz um movimento que procura por seus meios superar a naturalização da violência e encontrar na arte condições de pensar natureza como linguagem, trazendo consigo percursos históricos que são coletivos e sem o quais não há sentido possível de história.

Serviço

Fazer Faz Corpo

CURADORIA: @andreaureliano e @_renato_almeida_
ARTISTAS: @anafreitas_atelie, @diogonogueart e @_eduardo_baltazar_

Download Catálogo

Galeria Quarta Parede

Horários
Terça: 14h – 18h
Quarta: 10h – 22h
Quinta: 19h – 22h
Sexta: 10h – 18h
Sábado: 10h – 18h
Domingo e Segunda: Fechados

+ 55 11 91437-9720

Av Conselheiro Rodrigues Alves 722
​Vila Mariana – São Paulo – SP
CEP: 04014-002

Encanto: Artevivência da Afro-diáspora

Exposição “Encanto: Artevivência da Afro-Diáspora” Celebrando a Herança Cultural Africana na Arte Contemporânea

A mostra reúne pinturas, objetos, esculturas de 7 artistas, sendo três nascidos em Suzano e 4 da grande São Paulo. Em contextos com as grandes mostras do ano como as “Dos Brasis”, “Mãos – 35 anos da mão afro-brasileira” e a “35ª Bienal de São Paulo”.

Investigando diferentes técnicas incluindo pinturas a óleo, acrílica, giz pastel e até impressões digitais em materiais não convencionais como azulejo e banner. As obras mostram uma variedades de pensamentos, passando por abstracionismo, realismo, apropriação, aplicação de crochê, costura, e colagem de objetos

No meio de outubro, fui chamado para fazer uma exposição em Suzano, cidade onde nasci e lecionei no ensino fundamental por seis anos. O convite veio pelos anos que convivi e estive em conversa com a secretaria de cultura e discussões com os artistas locais.

Com a oportunidade se fazer uma curadoria, ou uma individual, escolhi a primeira opção e aproveitei os cursos e contatos artísticos que fui desenvolvendo ao longo do ano para compor a mostra.

Aline Baliberdin – Katia Souza – Ailarrubi – Diogo Nógue – Beré Magalhães – Daniel Ramos – Elidayana Alexandrino – Bruno Marcitelli

A primeira curadoria

Foi muito interessante pensar o papel da curadoria e exercitar uma proposta de pensamento sobre arte utilizando o trabalho de colegas contemporâneos para ilustrar esse pensamento.

Como artista independente, fui meu próprio curador em diferentes montagens das minhas individuais. E sem duvida, é mais simples desenhar a linha de discurso dos nossos próprios trabalhos. Com a tarefa de buscar artistas que se assemelhassem ao questionamento que ando formulando sobre o que é a arte no contexto atual e como ser um artista negro, escolhi um dos pontos que mais me instigam atualmente. A relação da construção de pensamento da realidade a partir da experiência da diáspora e a busca pelas filosofias epistêmicas africanas que resistiram nesse território.

Nesta minha hipótese, uma das formas de apagamento e dominação das populações negras, foi a negação de seu intelecto e suas construções de realidade, que se davam muito pela relação animista com elementos da natureza. Uma dessas vertentes está sem duvida nas relações sagradas e espirituais que regem o trato com a natureza, objetos fetiche.

Outro resquício dessa epistemologia é a formação de rodas. estar em roda é um ensinamento ancestral que chegou até nós em várias manifestações.

E a terceira é a relação com o alimento e a troca com a terra, essa conversa com o território.

A validação da realidade pela comunidade

Uma outra linha de pensamento que trago para essa mostra é a percepção que enquanto pessoa negra vivendo em uma realidade racista, a minha existência foi moldada para a vida de outras pessoas, negando a minha. A sociedade ensina a pessoas negras que elas tem um lugar determinado, fora do caminho das pessoas brancas, apenas a servindo. E que neste mundo somos inferiores, sem alma, não humanos, e o apagamento da nossa existência se deu por meio da religião católica, das pseudociências racistas e pela usurpação da autoria e criação de tecnologias negras.

Esse processo cria para nós uma realidade paralela, onde existe um véu separando nosso mundo do mundo dos brancos. Em alguns momentos e em alguns países esse véu se tornou uma barreira real, como o apartheid norte americano e Sul africano. Ou as periferias e favelas aqui no Brasil.

Dessas reflexões, criei o texto de parede para a mostra, que vocês podem ler abaixo.

Encanto: Artevivência da Afro-diáspora

A escritora Conceição Evaristo, para definir sua vasta e rica produção literária, vai cunhar o termo “Escrevivência” que define como: “não é a escrita de si, porque esta se esgota no próprio sujeito. Ela carrega a vivência da coletividade.”

Embora cada um de nós, individualmente, absorva o mundo de um jeito único, pelos nossos sentidos. A noção de realidade precisa ser construída no coletivo. 
Assim, vai depender do contexto de uma comunidade e a partir dos parâmetros que esse grupo estabelece para se definir o “verdadeiro”.
Vivendo neste território que chamamos atualmente de Brasil, a existência e leitura de mundo de pessoas negras e indígenas sempre foi invalidada, e ainda mais, demonizada.
Ainda hoje em nossas escolas, na mídia, e nas produções culturais lideradas pelos descendentes dos colonizadores, se aprende a ler o mundo pela perspectiva europeia e cristã. E todo conhecimento fora desse espectro é diminuído ou descartado.
Existe uma relutância em se ver e aceitar qualquer aspecto das culturas Afro, porém a que é mais ultrajada e violentada é a ligação entre a Magia/Encanto e o corpo africano. Sobrevivendo, entretanto, em meio às ciências positivistas que estampam a bandeira, às pseudociências racistas e ao racismo religioso, encontramos outras maneiras de compreender e interpretar a vida.

Em paralelo a uma realidade imposta e suturada por violências como traduz muito bem Rosana Paulino em suas obras. 
A arte consegue compartilhar singularidades e formas de apreender o mundo ao redor. Deslocando e tornando estranho o que achamos comum e verdadeiro, tirando o véu da conformidade que cobre nossa visão. 
Por muito tempo, mesmo a contragosto, as manifestações desses artistas negros foram nichadas e rebaixadas como arte ingênua, arte popular, artesanato e folclore. Mesmo pulsando com vigor na música, dança, festas e no fazer de roupas, pinturas, instrumentos e alegorias.
Mas nós, artistas negros, estamos há muito tempo lutando pelo território simbólico que a arte europeia ergueu a custa da escravização, morte dos nossos antepassados e colonização dos outros continentes. 
Nossa artevivência resiste e, através de uma arqueologia das  filosofias e tecnologias negras, nos conta dessa ligação ancestral da natureza e do mistério de caminhar no mundo.
Reconstruindo, pintando, desenhando, esculpindo, cantando e performando nosso lugar no mundo. Rasgamos o véu que nos separa dessa realidade que nos apaga. Em comunidade (en)cantamos “nós existimos e somos importantes”. 

Artistas Convidados

Participam da mostra os artistas Ailarrubi – utiliza a pintura em tela como uma forma de buscar a permanência das imagens que a tradição europeia criou, porém utilizando a mitologia de terreiro e até jogos de búzios para produzir suas imagens. Beré Magalhães também utiliza a mitologia africana, porém busca uma abordagem do expressionismo abstrato, arte naif e a abstração para compor seus desenhos e pinturas. Daniel Ramos por outro lado, utiliza aplicação de bordado, colagens de objetos como búzios, fotografias e outros tecidos no corpo de suas pinturas. Elidayana Alexandrino investiga o autorretrato, a composição com a fotografia e pintura digital explorando repetição da imagem e espelhamentos, buscando composições inusitadas e a impressão dessas imagens em azulejos, resgatando e re-imaginando a tradição de contar histórias nas cerâmicas portuguesas, mas dessa vez com sua própria história, sendo protagonista. Já May Agontinmé promove uma restauração ancestral, se apropriando de objetos e imagens de santos e entidades que foram sincretizadas entre o catolicismo a umbanda e candomblé e traz para a superfície com o crochê e colagens de tecidos as imagens de orixás negros.

Todos eles com alguma investigação da relação da negritude com a ancestralidade e busca do mágico, do encanto e da mitologia de povos, fon, Youruba e Bantu. Buscando também uma exploração da própria identidade diante disso e buscando a chave das potências.

Além disso a abertura contou com Katia Souza – Terapeuta naturalista vegana, massoterapeuta, guardiã da medicina placentária, alquimista, Doula, Parteira, Capoeirista, cozinheira, e oficineira. Levando o alimento como parte desse conhecimento ancestral, e também como energia vital que nos trouxe até aqui. Foi parte essencial na abertura e celebração desse momento.

Reivindicando o sagrado espaço da arte para todas as nossas potências. também tivemos a música de artistas da diáspora tocando durante o evento.

Suzano

Apesar de não ressaltar em sua história a contribuição negra de forma efusiva, ela é muito importante para esse território, assim como as comunidades indígenas que foram invadidas, mas que deixaram suas marcas na história.

Apesar de eu ter nascido em Suzano, na época, morava na divisa entre São Paulo e Poá, o bairro chamado Cidade Kemel, por esse motivo, a maternidade de Suzano era uma das mais próximas. Minha mãe conta que o parto foi muito dificil, e que ela passou por violências pesadas, como a enfermeira dizendo que ela tinha que empurrar mais forte se não o bebe morreria, e seria culpa dela. Até mesmo subirem e apertarem sua barriga durante o trabalho de parto. Mostrando como o racismo e violência contra corpos negros atravessam todos os momentos de nossas vidas.

Uma das formas de discutir a herança africana nesse território foi com o instalação “Composição – Uruçu – Iemanjá – Adupé” que criei comprando objetos de lojas de artigos religiosos que estão na cidade, em volta do Centro de Cultura. Trazendo a circularidade novamente, as tigelas de oferendas, velas, ervas, e elementos como a água, argila, cachaça, mel e palha. As cores de Exu, Iemanjá e Nanã. Reflito sobre essa cultura e conhecimentos ancestrais que passam por baixo da realidade vigente. De uma cidade conservadora, em que os cristãos fundamentalistas protestantes dominam o pensamento de muitas famílias da região. Mas que ainda guarda muita força das matrizes africanas com terreiros e outras manifestações afro no local.

Localização: Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi –  R. Benjamin Constant, 682 
Horário: das 8h as 19h – Seg a Sab.
Entrada: Gratuita

Uma certa enciclopedia

Uma Certa Enciclopédia – Exposição

Em setembro aconteceu a exposição “Uma Certa Enciclopédia” na Galeria Tato, foi uma experiência muito enriquecedora. Esta exposição faz parte do programa Casa Tato, que tem como base unir os artistas das casas 8 e 9 com os trabalhos desenvolvidos no acompanhamento artístico promovido galeria.

Nela contribui com duas pinturas que representam os caminhos atuais da minha pesquisa artística. A primeira delas, intitulada “Desconversando o Eu”, realizada em tinta a óleo sobre algodão, mergulha profundamente na temática do corpo do homem negro. Na obra, o corpo suspenso no espaço da pintura serve como um ponto de discussão sobre os estereótipos do racismo que são impostos a esse corpo, e ao mesmo tempo, busca resgatar a subjetividade desse indivíduo, cuja identidade e humanidade frequentemente são apagadas. Inspirado pelas pesquisas de Sidney Amaral, essa obra é uma homenagem e uma tentativa de dar continuidade ao seu pensamento artístico. No cerne da pintura está a exploração da produção de arte “afro-brasileira” e a desconstrução do que a sociedade racista constrói em relação a esse sujeito.

diogo-nogue-portfolio-desconversando-o-eu-2020

A segunda pintura, “IyejiAde – O vale”, parte da série “Quem Matou Basquiat?”, é uma construção rica e densa que explora a acumulação e a sobreposição de símbolos e formas de representação. Nesta obra, retomei elementos da minha série anterior, “De onde os medos crescem”, que se inspirou no trabalho de Octávio Araujo, bem como na figura icônica de Basquiat. Ao longo desse processo, a filosofia Ubuntu – “eu sou porque nós somos” – tornou-se evidente, representando uma reverência aos artistas negros que vieram antes de mim. Dentro de uma perspectiva Afro-surrealista e no desejo de criar uma arte que seja uma expressão “africana da diáspora”, busquei relacionar a ideia de “Encanto” – o mágico – com elementos do meu cotidiano.

IyemejiAde - O Vale - Série Quem Matou Basquiat?

A exposição “Uma Certa Enciclopédia” proporcionou um espaço valioso para explorar questões profundas e sensíveis, contando com a colaboração de produções diversas e instigantes dos meus colegas de Casa Tato 9. Com curadoria de Kátia Salvany, uma das professoras que mais me inspirou durante a graduação na Belas Artes, foi uma oportunidade de compartilhar minhas reflexões e visão de mundo com o público diferente, ao mesmo tempo em que celebro e honro aqueles que vieram antes de mim na jornada. Fico profundamente grato por fazer parte desse evento e pela oportunidade de contribuir para essa enciclopédia viva de expressão artística e cultural.

Fotos de Paulo Pereira – Galeria Tato

exposicao-meu-corpo-que-te-abriga

Exposição “Meu Corpo que te Abriga”

Meu Corpo que te abriga – No mês de novembro, dia 23, abri uma exposição de desenhos e pinturas na cidade de Santo André.

A princípio, o convite para a exposição no Centro de Formação de Professores Clarice Lispector foi uma ótima surpresa no fim do ano. Assim, fiquei muito feliz pelas mostras que pude participar ao longo de 2022. Duas coletivas cheias de ótimos artistas. Então, foi ótimo finalizar o ano com uma individual.

Tive total liberdade e o espaço para mostra foi bem generoso. Decidi por reunir algumas séries que tinham tudo a ver com a Decolonização (tema das palestras e eventos voltados a professores do EJA na rede).

Ano passado, eu fui convidado para participar de uma palestra em Santo André sobre o mesmo assunto. Porém por conta da pandemia, tivemos que fazer on-line. Desta vez, conseguimos nos encontrar presencialmente. Assim, levar para os professores e alunos da rede uma reflexão que passa pelo meu trabalho como professor no ensino fundamental e também como artista.

Descolonizando o Olhar

Desde o ano passado, e partindo das minhas pesquisas que culminaram na exposição “O que nunca vão apagar” (2020), revisitei minha produção da faculdade e pós formação. E pude ver, criticamente, como minhas referências visuais eram muito caucasianas. Fruto de um repertório visual construído a partir de livros de história da arte, críticos e um currículo eurocêntrico.

Logo, minhas preferências culturais também ficaram muito focadas em gostos brancos, tive que me “desintoxicar” desse meio, frequentando mais polos de cultura negra, ouvindo mais musica, literatura, culinária e arte negra.

Enfim, Foi uma volta as raízes e uma volta a mim mesmo. Deixar de tentar me encaixar em um padrão do que eu achava, era a única forma de parecer um “artista de verdade”.

O Corpo que me abriga

Primeiramente, a investigação da representação do corpo sempre esteve presente em minha arte. Muitos apontavam a questão da violência que as imagens invocavam por se tratar de corpos fragmentados, anatomias com músculos, ossos, e veias aparecendo. Porém, para um artista, assimilar o corpo como um objeto de estudo é algo muito natural, ver as figuras apenas como um motivo para exercitar o gráfico, luz, sombra, linhas e manchas.

Nos anos 90, enquanto crescia, essa violência gráfica era muito comum e muito consumida. Estava fácil na TV, filmes de terror, jogos de videogame, revistas e até em fotos de acidades. Portanto, em meu subconsciente era algo muito normal, algo que para outras pessoas era muito forte.

Dessa forma, quando emprego essa representação para tratar da violência contra o corpo negro, para um publico estruturalmente racista, vira uma arte indenitária. Já que para a branquitude, o homem branco é o genérico, eles não percebem que toda a arte deles é indenitária e, ainda mais, supremacista.

Em síntese, tive que expulsar esse conceito do branco como o genérico e padrão, para enfim, meu corpo me abrigar de forma confortável.

Veja como foi a mostra

Veja o vídeo da montagem da mostra

Serviço

Meu corpo que te abriga – Diogo Nógue
C.F.P Clarice Lispector – Rua Tirol, 248 – Santo André
Visitas de Segunda à Sexta – Horário comercial
Até 10 de dezembro de 2022

Exposição Black Brazil Art

bienal - vista-exposição-virtual-pintura-nofim
Vista da mostra virtual “Bienal Black Brazil Art” com a pintura “No fim, nossas memórias são inimigas”

Bienal

Bienal Black art – À treze anos atrás quando me formei em artes e durante os anos de formação. Fiz de tudo para entrar em algum salão de arte, ou fazer exposições em galerias. Esses eram os dois caminhos que eram ensinados na graduação para se entrar no “Circuito”. No entanto, o que não falavam é que este caminho era mais indicados para quem tinha algum contato, era filho, amigo, ou neto de alguém importante. Pois, de outra forma seria bem complicado.

Claro, você também poderia fazer um trabalho da moda e aproveitar alguma onda com um trabalho insipido, mas que chamasse atenção. Em 2008, 2009 era o grafite, mas o grafite feito por pessoas brancas, que eram capturadas pelo mercado de galerias ávidas por trabalhos com cara de “Rua”.

Mudando o Jogo?

No meu caso, minha arte estava em um conflito, que eu nem mesmo sabia enxergar na época. Existiam alguns tabus visuais e teóricos que não se falava na época. Inconscientemente minha produção imagética e temática era muito eurocêntrica, caucasiana. Pois as mídias tinham me ensinado que a branquitude era o padrão. o Ser branco era o humano correto, enquanto fazer uma arte que se parecesse comigo, seria uma arte identitária e panfletária. Não seria uma arte plural. Vejam Só!

Desta forma enquanto artista negro reproduzindo padrões brancos, minha arte não tinha a potência suficiente nem parar chamar atenção pela rebeldia, nem para agradar os brancos que queriam algo mais palatável.

Então, foi com bastante alegria que recebi a noticia de ser selecionado para a Bienal Black Brazil Art. Uma seleção feita por uma curadoria negra, refletindo sobre um tema da existência negra.

Ou seja, uma completa quebra do paradigma que vivi e aprendi, no meu inicio de carreira.

Atualmente, existem muitos curadores, e os espaços expositivos estão se abrindo, mesmo que bem lentamente. Para quebrar as barreiras que o racismo estrutural criam para barrar a arte de artistas negros que falam sobre ser negro no brasil e no mundo.

A Mostra

bienal - vista-exposição-obra-de-thais
A tela à direita é da minha irmã Thais – iniciando nas mostras de arte

Uma mostra de artistas negros, pensada por curadores negras, em uma instituição negra. A cinco anos atrás isso era quase impossível, hoje foi uma realidade. Na mostra virtual duas de minhas pinturas – A “Ela tinha sonhos, mas quem vive deles?” e “No Fim, nossas memórias são Inimigas”.

Assim, Mais feliz ainda de participar com minha irmã nessa mostra. Que por conta da pandemia, foi apenas uma montagem online. O ponto positivo é que a exposição pode ser vista na página da Bienal.

As duas pinturas que fiz mostram uma mudança na minha forma de criar imagens e também nos simbolismos empregados.

Durante a faculdade e alguns anos após me formar, utilizei muitas referências à pintores europeus como Dali, Magritti, De Chirico. E nos últimos anos, estudando mais sobre a negritude e refletindo mais sobre essa imposição europeia no meu inconsciente, fui mudando as formas de registros e referências visuais para meus trabalhos.

A mostra teve seu período no primeiro bimestre de 2022, com a participação de vários artistas, palestras, e videoconferências. Uma ótima maneira de fomentar a arte preta e movimentar o mercado.

Um longo caminho

Portanto, Para esse ano estou desenvolvendo novos trabalhos que exploram artistas negros. Basquiat e Bispo de Rosário, relacionando minha produção e pesquisa como a carga que esses dois potentes homens negros trazem em seus trabalhos.

Assim, um longo caminho ainda a seguir para me livrar ou ainda. Utilizar de forma critica essa carga e influencia do cânone eurocêntrico que ainda hoje e que por muito tempo ainda vai comandar o cenário artístico.

banner-expo

Exposição “O Que Nunca Vão Apagar” -2020

A exposição é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do artista negro em relação a uma sociedade racista e eurocentrica que tenta esteriotipar e apagar a vida desse sujeito.

Diogo Nógue é artista visual, escritor e ilustrador. Como ilustrador e escritor lançou os livros “Trovinhas das cores e amores” de 2016, o de poesias “Pedra Polida” de 2019 e participou da coletânea “Pretos em Contos” em 2020.

Desde 2004 desenvolve sua pesquisa em pintura e desenho, tendo participado de exposições coletivas e individuais dentre elas a mostra “Entre o Real e o Sonho” de 2017 na Casa de Cultura Raul Seixas.

Retorna com a mostra virtual “O que nunca vão apagar”. Uma reunião de 8 desenhos da série “Quem matou Basquiat?” e o díptico em pintura óleo “Desconversando o Eu”

 Utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores o artista construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano.

Reflexões de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são temas centrais das obras.

Assim como no díptico “Desconversando o Eu” autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro é base para discussão dos estereótipos de força de trabalho e sexualização. Explorando a fragilidade e ressaltando um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade racista brasileira.

A mostra “O que nunca vão apagar” é uma reunião de desenhos e um díptico em pintura que busca discutir o corpo do homem negro, os desafios, medos, felicidades e tristezas que como a sociedade a sua volta o constrói e destrói.

A série de 8 desenhos chamada “Quem matou Basquiat?” feitos em papel canson na medida de 42×29,7 cm é a parte principal da exposição, onde utilizando de nanquim, lápis grafite, tinta guache, acrílica e marcadores vou construindo imagens complexas e cheias de camadas que misturam silhuetas, escrita e a anatomia do corpo humano. As temáticas destes desenhos partem como o nome diz da figura de Basquiat, um dos poucos artistas negros que são aceitos e reconhecidos em todo mundo como um “gênio-da-arte”, que porém morreu precocemente e não pode usufruir do seu legado. Essa reflexão de como o racismo estrutural e a cultura eurocêntrica apaga e impõe limites de quem pode ser artista, e de como tratar o legado desses, assim como a exclusão e as inseguranças que esse sistema causa aos homens negros são trabalhados nos desenhos.

Compondo essa montagem o díptico “Desconversando o Eu” são pinturas autorretrato feitos à tinta à óleo em algodão preparado. O corpo de um homem negro não padrão com rosto, mãos e pés pintados de preto e sem órgão sexual. Esta imagem apaga ou exclui os estereótipos impostos ao homem negro, tido apenas como força de trabalho manual e sexualizada. Nestas pinturas o homem negro que não consegue se comunicar consigo mesmo, se monstra em posição de fragilidade e busca levantar reflexões e ressaltar um lado humano sentimental que é ignorado pela sociedade em geral.

diogo-nogue-exposicao-10-faces

Exposição 10 Faces: do traço a cor

artista diogo nogue e trabalhos da série faces espelhos

Mostra reúne retratos de diferentes pesquisas com o tema da beleza negra.

Olá amigos, ano começa com muito trabalho e exposições. Dessa vez o convite veio do Projeto 29 Cultural promovido pelo Cartório 29ª da região de Moema. A Tabeliã Priscila Agapito abre seu espaço para mostras. Assim promover um ambiente mais rico para seus clientes e fomentar a cultura.

Com ajuda de montagem e curadoria da artista Gi Archanjo, um lugar que geralmente é sério e monótono, criva vida com a arte de novos artistas.

Diante de uma oportunidade tão especial, decidi reunir algumas pesquisas ainda em desenvolvimento e recuperar algumas ideias que ficaram no caminho.

Dessa seleção é que ficaram os 10 trabalhos que vou levar para a mostra que tem a abertura programada para 19 de fevereiro, ficando em cartaz até 31 de março.

exposição 10 faces afrofuturismo

Saindo de retratos com lápis grafite, passando pelos nanquins com uma ideia afrofuturista e chegando aos retratos de guache, onde a cor da pele negra é o maior o meu interesse maior.

10 faces são perguntas que venho me fazendo em busca de uma ancestralidade, representatividade e apropriação de uma visualidade que tenta fugir do padrão eurocêntrico, e tenta beber na observação do povo negro no mundo atual e em realidades fictícias.

Sinto que ainda tenho muito que aprender e pesquisar para chegar em uma resposta e novos caminhos para minha produção. É importante dizer para mim mesmo que as perguntas estão sendo feitas. Melhor ainda é poder compartilhar esse caminho com outras pessoas.

 

Serviço:

Exposição 10 Faces: do traço a cor

De 19/2 até 31/03

Onde: 29º Tabelionato de Notas da Capital

Endereço: Alameda Jauaperi, 515 – Moema – São Paulo

diogo-nogue-exposicao-pratodos-adinkras

Exposição Pratodos – 40 artistas tendo o prato como suporte!

O Prato como suporte, uma ação social por base

detalhe – prato raízes negras

 

Olá amigos, em Fevereiro a partir do dia 11, estarei participando da exposição coletiva Pratodos aqui em são paulo.

Para essa expo, foram convidados 40 artistas para intervir no prato como suporte. O mais legal é que os pratos estarão e parte da do dinheiro da venda será destinado a uma ong que prepara marmitas vegetarianas para moradores de rua.

Fiquei em duvida em qual das minhas pesquisas aplicar ao prato, porém no fim, acabei escolhendo a pesquisa visual da linguagem das Raízes Negras, (trabalho de ilustração que já postei aqui).

Nessa pesquisa, estou buscando desenvolver uma imagética de identidade negra, resgatando a simbologia, padrões e estética afro, e buscando uma atmosfera afrofuturista.

Neste trabalho iniciei uma pesquisa sobre os Adinkras, como símbolos principais.

Utilizei a acrílica e caneta dourada para trazer um efeito mais de realeza para a peça. O resultado ficou bem interessante. Diferente dos outros retratos da série feitos digitalmente, porém bem interessante na materialidade.

Para mais detalhes de como chegar a exposição veja o release abaixo:

Exposição Pratodos

O Prato, este é o suporte escolhido para a Exposição PRATODOS, onde 40 artistas apresentarão sua poética nesse objeto tão comum, mas cheio de significados e sugestões. Cada artista receberá um prato e nele terá liberdade total de expressão. A proposta é discutir a ética na alimentação nos dias de hoje.
As peças serão vendidas a um preço simbólico (R$60). Parte do valor será destinado aos artistas e o restante do dinheiro será revertido para uma ação que distribuirá marmitas veganas a moradores de rua. Os interessados terão duas opções: comprar pelo valor total (R$60) ou pagar metade do valor e se disponibilizar como voluntário no dia da ação.

O projeto foi idealizado e será realizado pelo espaço independente de arte GARAGEM ATELIÊ. A iniciativa é uma ideia antiga de um dos integrantes e foi inspirada em vários diálogos sobre o que comemos (de origem animal ou não), sobre a comida como objeto de estudo social e até mesmo a arte como algo que alimenta o espírito.

A festa de abertura e venda das artes acontecerá no dia 11 de fevereiro de 2017 no Garagem Ateliê, Ermelino Matarazzo, São Paulo.

LISTA DE ARTISTAS:

– Alcides
– Almir AS76
– Alan Alvico
– André Filur
– Bazco
– Bia Marins
– Dedoth
– Diane Motta
– Diogo Nogue
– Felipe BIT
– Felipe Urso
– Gabigo
– Fernanda Barbosa
– Gabi NIU
– Gi Archanjo
– Gil Douglas
– Gislaine Costa
– Ítalo
– Jana
– Ju Violeta
– Karine Guerra
– Lais da Lama
– Linoca Souza
– Marisasoou Lamah
– Moara Brasil
– Natália Manfrin
– Nautila
– Opeop
– Qel
– Rafael Limberger
– Raiza Limberger
– Régis
– Ricardo Cadol
– Samantha Prado
– Smup
– Tom Pina
– Vander xCHEx
– Vermelho
– William Mophos
GARAGEM ATELIÊ
Local de discussão, produção e exposição de arte na periferia da Zona Leste de São Paulo. O grupo que mantém o espaço (uma garagem de verdade), realiza atividades em conjunto com outros coletivos culturais e artistas da cidade.

diogo-nogue-blog--pdf-livro-de-onde-os-medos-crescem

Conto “De onde os medos crescem” – Download Free

Capa - de onde os medos crescem

Esta semana disponibilizei na parte de Downloads do meu site o conto “De onde os medos crescem”. O texto foi escrito como parte do processo de criação das minhas telas de pintura na série homônima.

Um artista que foi quem me mostrou que isso era possível e muito enriquecedor para um trabalho artístico foi o Tunga, que faleceu semana retrasada. Então como homenagem, dedico este conto e esse pdf á ele.

Para baixar clique na imagem acima ou aqui.

Segue abaixo uma reflexão sobre utilizar a literatura como processo para a pintura que escrevi na minha monografia de conclusão da graduação:

De onde as telas crescem: o conto como processo para a pintura.  

A literatura sempre fez parte da minha produção. E há alguns anos também desenvolvo minha pesquisa literária, com textos que tendem para uma atmosfera estranha, do fantasioso, onde os acontecimentos podem ser tidos como metáforas ou puro deslocamento da realidade. O que dá outro valor ao enredo do texto (pequenos detalhes ganham mais importância.)

Minha primeira experiência em unir texto e imagem, foi ainda no ensino médio. Onde fiz uma pequena exposição onde cada desenho tinha um texto ao lado.

Os textos poéticos vieram a partir dos desenhos e relacionava os elementos das imagens com a palavra. Estes textos não eram explicações nem descrições das telas, também não eram interpretações, mas por serem postos lado a lado, e por se alimentarem de elementos semelhantes ambos compartilhavam e ampliavam sentidos.

Durante o decorrer do curso de bacharelado, nunca cheguei a repetir essa interação, apesar de ter esse desejo. Alguns motivos adiaram essa minha investida, tais como: a possível relação ilustrativa entre imagem e texto, o direcionamento de interpretação da obra; e a indagação “se o texto já diz tudo que tem que dizer, qual seria então o sentido dessa imagem?”

Porém com meus questionamentos e experiências na procura de métodos para se construir uma imagem, cheguei, com a ajuda de orientadores, a estratégia de ler um livro, um romance inteiro, e fazer uma única pintura sobre este livro. Ser tomado por suas sensações  e estímulos tirando dele os elementos para se construir a pintura.

Este desafio trouxe novamente as antigas questões, mas trouxe também uma nova forma de pensar as imagens da pintura, suas relações e estruturas. Apesar de ficar satisfeito com o resultado dessa experiência, não era meu propósito inicial, usar um novo texto para esse projeto de conclusão.

Durante as minhas leituras de pesquisas para o pré trabalho de conclusão de curso, no entanto, entrei novamente em contato com um livro de artista que me deu a certeza de que era possível fazer essa relação entre uma obra ( de qualquer natureza: escultura, gravura, desenho, pintura, performance etc.) e um texto que sirva como fonte “mitológica”, processo de criação.

Este livro foi “O Barroco de Lírios” do artista Tunga (1952-)[1]. Neste livro o artista reúne algumas das suas obras mais importantes. A partir desses registros, vai mostrando o inicio de vida dos temas que utiliza e seus desdobramentos em diferentes trabalhos. Como inicio de cada trabalho Tunga coloca um texto, conto, relato, ou documento que fala da construção dessa obra, a idéia inicial, as referências e desdobramentos.

Porém esse relato, muitas vezes, como acontece, por exemplo, no texto “Xifópagas Capilares entre nós”[2] tem uma liberdade literária, que foge da realidade para criar um universo intrigante que envolve o leitor e mistura fatos reais com mitos e imaginação.  Esta aura vai impregnar suas esculturas e desenhos e darão uma unidade a elas.

Foi partindo desse pensamento que desenvolvi o conto[3] “De onde os medos crescem”[4] que une em sua construção as imagens vestígio, anotações de sonhos e relatos de história de família que são mais bem explicados no Anexo 2.

Até então todas as minhas pinturas anteriores vinham de um exercício de imaginar a construção da pintura relacionando símbolos a minha escolha, tentando preencher o campo de trabalho e dividindo as em camadas em busca de uma sensação intuída, mas pouco materializada.

Minha experiência na literatura me fez perceber a forma em que um conto ou texto é criado. Ao escrever a narrativa precisa-se passar credibilidade ao leitor, e também  conduzí-lo de forma que todas as palavras, frases e pontuação tenham uma importância determinante. É preciso cuidado, pode-se comparar a montagem de um quebra-cabeça, cada peça (frase) se encaixa em seu lugar, formando a imagem desejada.

Assim, ao inserir um contexto, as ações e símbolos que fazem as imagens precisam ser justificados textualmente, e vão compor um universo. O universo de um conto tem suas próprias regras (às vezes usando as regras do nosso mundo, ou criando novas) e elas precisam ser atendidas para dar sequência a história.

Acontece que seguindo essas regras de construção, o conto tem uma “vida própria”. Sendo assim, parto de uma idéia inicial para o texto, tenho minhas vontades, quero que determinados acontecimentos sejam a chave desse texto. Porém, para justificá-los vou inserir elementos, peças do quebra-cabeça, que não tinha em mãos a priori, mas que são fundamentais na formação do sentido do texto e da imagem que vai trabalhando os elementos pictóricos.

Esta força do enredo me faz construir imagens que eu não teria imaginado de imediato, pensar relações que necessitam de uma lógica diferente para se unir. Existe nesse sentido “um outro tipo de relação entre palavra e imagem” uma “experimentação verbalizada[5]. Assim “a narrativa verbal prepara uma futura ação plástica”[6].

Foi atrás desta lógica textual que foquei as minhas coletas de imagens e sonhos, defini temas, sentimentos e sensações para transpô-las para a série de pinturas apresentadas. Materializando e desenvolvendo aquelas sensações e imagens que antes eram apenas intuídas. Sendo assim, o conto “De onde os medos crescem” é  como um banco de imagens, que foi inicialmente pensado para a pintura, desenvolvido textualmente e novamente transposto para tela.

Este método de tradução de uma linguagem em uma segunda é conhecido como tradução Intersemiótica[7] e é objeto de estudo de Julio Plaza em seu livro homônimo. Plaza nos trás a seguinte definição:

 

“ A tradução Intersemiótica ou ‘transmutação’ foi definida por Roman Jakobson como sendo aquele tipo de tradução que ‘consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais’ ou ‘de um sistema de signos para outros, por exemplo, da arte verbal para a música, a dança, o cinema e a pintura’ ou vice-versa”. (Plaza. 2001)

 

Como é dito por Plaza em seu livro, a tradução Intersemiótica nada tem a ver com fidelidade “pois ela cria sua própria verdade e uma relação fortemente tramada entre seus diversos momentos[8].

Quero dizer com isso que diferente do conto, as telas não tem uma dependência narrativa entre elas, e nem em relação ao texto. Não tento transformar, resumir ou capturar o conto em uma imagem, a tela não tem esse compromisso. Preocupo-me em me apropriar da relação interna do texto, de alguns estímulos e levá-los para o campo pictórico, fazendo que encontrem sua própria existência de acordo com meus procedimentos de pintura. Capturas diferentes momentos, ações e significados e traduzidos em uma imagem.

Em contexto expositivo as telas não dependem do conto, não pretendo apresentar o texto no espaço junto com a tela. E nem mesmo a montagem das telas no espaço precisa seguir a ordem em que elas surgem no conto, pois cada pintura fala de si mesma.

[1] Artista brasileiro ( Palmares, PE). Escultor, desenhista, artista performático.

[2] TUNGA. Barroco de Lírios. São Paulo: Cosac & Naify, 1997 p. 45

[3] Apesar de empregar o termo conto, este não é o mais apropriado para definir o texto referido por ter uma estrutura mais complexa. Porem decidi usar o termo pelo que ele representa (uma história curta).

[4] Anexo 2 p.42

[5] SALLES, C. A., 2003 : 95

[6] SALLES, C. A. 2003 p: 95

[7] PLAZA, 2001: 01

[8] Idem: 01

diogo-nogue-exposição-de-onde-os-medos

De onde os medos ganham força? – Exposição

Exposição Diogo Nogue

Olá amigos é com prazer que venho anunciar mais essa novidade, finalmente está chegando o dia da minha exposição individual.

A expo chama “De onde os medos ganham força” e vou levar pra ela minhas telas mais recentes, que são continuação das pesquisa em arte contemporânea, sobretudo, pintura contemporânea.

Estou ansioso e trabalhando nos últimos detalhes da montagem, mas faz tempo que esta mostra estava engatilhada e é uma tremenda conquista para mim.

A convocação da Secretaria de Cultura de Santos veio ainda em 2015, após selecionarem meu projeto em banca do Salão de Arte daquele ano. Porém o cronograma dos outros selecionados se estendeu e minha montagem ficou apenas para 2016.

Finalmente chegou.

A pesquisa “De onde os medos crescem” teve inicio no meu projeto de TCC da faculdade. Para ele, escrevi o conto homônimo, inspirado em história de família, da arte, do brasil e misturando conceitos da filosofia, psicologia e do fazer pictórico para gerar relações simbólicas e relações que só a lógica narrativa consegue construir.

Deste conto produzi 4 telas para minha conclusão de curso, elas me renderam nota máxima e também uma indicação para mostra coletiva.

Em 2010 então, junto com mais 10 colegas, participei da exposição “Onze Lições” com as telas desta série.

Posteriormente continuei desenvolvendo a pesquisa e criei outras telas.

A mostra de Santo será a união desse trabalho novo e também as 4 telas iniciais. Portanto é um marco em minha carreira artística, sem dúvida. O nome também é bem significativo, já que os medos começam a crescer quando os anos pós-faculdade vão passando e fica mais difícil manter a produção. Porém a luta não pode parar, por isso sigo sempre acreditando em meu trabalho, sempre desenvolvendo meus conhecimentos teóricos e técnicos para deixar um legado que me orgulhe.

Para mais detalhes da mostra vou deixar o serviço e o link para evento.

 

Página do Evento: www.facebook.com/events/643055199176504/

Serviço:
Exposição “De onde os medos ganham força” – Diogo Nogue
Quando: de 18 de junho a 02 de julho – Abertura 17.6 às 19h
Onde: Centro de Cultura Patrícia Galvão
Endereço: Av. Senador Pinheiro Machado, 48  – 3º Andar – Vila Matias, Santos/SP
Página do artista: www.facebook.com/diogonogueart
Site oficial: www.diogonogue.com.br
Página da Galeria: www.facebook.com/galeriasdesantos
Informações: (13) 32268010

 

 

show