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Nós Sempre estivemos aqui – Uma Bienal do futuro
Durante minha carreira como artista sempre fico pensando em formas de manipular distintos materiais e montagens de exposições.
Uma expografia é sem dúvida um complemento ao discurso artístico, e pensar no espaço expositivo, a instituição e território que o abriga é um exercício interessante de imaginar possibilidades de trabalhos.
Esses meus exercícios muitas vezes ficam apenas na fase do rascunho inicial em cadernos de estudos, porém estou me propondo recuperar alguns deles e ir para os passos seguintes. Um bloqueio que me coloquei, sem perceber, era o de que algumas dessas ideias eram impossíveis ou muito distantes de acontecer.
Algo que o artista Christo, um dos meus preferidos, já tinha me ensinado ainda durante a graduação, é que projetar também é uma arte em si. E extremamente necessária para algumas obras.
Por isso, resolvi utilizar a escrita e, os meios que tenho disponíveis no momento, para colocar no mundo algumas das minhas ideias.
O Nós sempre estivemos aqui
Aproveitando o ano de Bienal, resolvi iniciar esse meu novo processo com um projeto de instalação ambicioso e complexo. Utilizando os materiais: parafina, café e açúcar. E as relações de corpo e espaço.
Como suporte para esses materiais eu escolhi não só o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, mas também a minha própria impressão do que é fazer uma visita a uma mostra da Bienal de São Paulo.
A entrada pelo térreo de vidro, a subida pela rampa e a escalada para o terceiro andar, é uma peregrinação por diferentes universos. É uma romaria de desgaste mental e físico. De forma que é inviável em apenas uma visita apreciar toda mostra.
Refletindo sobre isso que imaginei este trabalho nascendo nos primeiros andares com o café e o açúcar, matéria prima que permitiu o acúmulo de riqueza para a existência do espaço. Interagindo com espaços expositivos, mas também com as estruturas de auxílio, como os banheiros, comedores, livrarias. E também invadindo de forma sutil o espaço de outras obras de arte.
Depois, com as silhuetas e deformações no chão e paredes buscam causar um estranhamento, mas também um convite a adentrar uma realidade paralela, pensando nas ausências, fantasmas e resquícios de passagens humanas daquele lugar.
Por fim, no terceiro andar, a união dos materiais iniciais com a parafina e a cor vermelha. Dezenas de esculturas em tamanho real de pessoas negras. Existências que o estado brasileiro tentou apagar, esconder, e aniquilar de sua história.
Mas não conseguiram.
Notícias do amanhã
Como forma de trazer esse trabalho ao mundo, estou utilizando meu site e o Instagram como suportes e mídias. E o Museu Baobá Ancestral, como instituição fictícia de articulação desses trabalhos.
A seguir deixo os textos e imagens que utilizei para descrever a instalação e fazer a mostra acontecer na mente de todos que leram as pastagens.
Durante a faculdade, tive contato com muitos trabalhos artísticos apenas por descrições em textos ou relatos de pessoas que presenciaram determinadas obras, ou montagens de exposições. Tento apenas o texto ou no máximo, fotos de registros desses trabalhos, muitas aulas e discussões sobre obras artísticas e artistas, se deram com base na imaginação e na recriação mental dessas ações.
Muitos deles ficaram gravados em minha memória durante anos ou até hoje.
E refletindo nesse processo que escrevi o texto e as imagens, e peças de postagem de Instagram. Utilizando o relato, o conto, a notícia, a síntese de listas, como forma de produzir a obra na mente das pessoas.
Uma proposta para a Bienal de São Paulo
(texto a seguir foi postado no instagram)
Produzindo a confusão
O resultado de utilizar a linguagem da mídia, neste caso o Instagram e a Internet, foi criar uma ambiguidade. Algumas pessoas acreditaram que o trabalho estava acontecendo de fato, que era real. Alguns ficaram em dúvida, e sondaram nos comentários, pedindo mais informações para saber se era real.
Mesmo que o texto em si desse dicas que se tratasse de um projeto, ou uma ficção, o formato de texto jornalístico causou a proposital confusão. A realidade ou não do projeto não era de fato importante, e por isso deixei indícios para o leitor concluir por si a simulação. O importante é que a obra enquanto relato, já existia na mente das pessoas.
A criação de imagens geradas por Inteligência artificial também foi crucial na provocação da confusão. O resultados obtidos pelo Midjouney foram dificeis de serem produzidos, porém geraram em mim um encantamento e assombro.
Realidade paralela
A Internet e a forma que interagimos com as redes sociais, cria um avatar e realidades paralelas. São inúmeras as discussões contemporâneas sobre as problemáticas dessa vida que cada um escolhe construir ou não nas redes. Ainda mais nos dias de hoje, com a criação da profissão de influenciador, criar uma vida perfeita, ou ser um troll, são exemplos de criações de personas, que habitam realidades paralelas. Uma fragmentação do “Eu” de acordo com a mídia em que se está, reflete nossa forma de existir também no mundo real. Muitas vezes temos que criar personagens para o ambiente de trabalho, outro para amigos, outro para a igreja, colegas da academia e etc.
Essa realidade paralela, mesmo que extremamente bizarra e irreal, muitas vezes pode afetar o mundo real. Foi o que aprendemos com as “fakenews” os “memes”, as correntes que se compartilhavam por e-mails e passaram a ser enviadas por WhatsApp.
Podemos voltar ainda mais e pensar na transmissão de rádio de “Guerra dos mundos” que Orson Welles realizou em 1938. Ação que tive conhecimento pelo relato de um professor, durante uma aula na faculdade, e que ficou gravado em minha mente se forma potente. Como se eu mesmo tivesse vivido o ocorrido.
Afro-surreal mais uma vez
Novamente essa reflexão sobre avatares, realidades paralelas, e viver em mundos surreais se integra ao tema do afro-surrealismo, que venho investigando.
Ultimamente venho pensando até se a existência e utilização do termo para produzir arte e literatura é importante ou não.
Certamente voltarei ao assunto futuramente.
Aguardo você por lá no futuro.
Até a próxima!