Em setembro aconteceu a exposição “Uma Certa Enciclopédia” na Galeria Tato, foi uma experiência muito enriquecedora. Esta exposição faz parte do programa Casa Tato, que tem como base unir os artistas das casas 8 e 9 com os trabalhos desenvolvidos no acompanhamento artístico promovido galeria.
Nela contribui com duas pinturas que representam os caminhos atuais da minha pesquisa artística. A primeira delas, intitulada “Desconversando o Eu”, realizada em tinta a óleo sobre algodão, mergulha profundamente na temática do corpo do homem negro. Na obra, o corpo suspenso no espaço da pintura serve como um ponto de discussão sobre os estereótipos do racismo que são impostos a esse corpo, e ao mesmo tempo, busca resgatar a subjetividade desse indivíduo, cuja identidade e humanidade frequentemente são apagadas. Inspirado pelas pesquisas de Sidney Amaral, essa obra é uma homenagem e uma tentativa de dar continuidade ao seu pensamento artístico. No cerne da pintura está a exploração da produção de arte “afro-brasileira” e a desconstrução do que a sociedade racista constrói em relação a esse sujeito.
A segunda pintura, “IyejiAde – O vale”, parte da série “Quem Matou Basquiat?”, é uma construção rica e densa que explora a acumulação e a sobreposição de símbolos e formas de representação. Nesta obra, retomei elementos da minha série anterior, “De onde os medos crescem”, que se inspirou no trabalho de Octávio Araujo, bem como na figura icônica de Basquiat. Ao longo desse processo, a filosofia Ubuntu – “eu sou porque nós somos” – tornou-se evidente, representando uma reverência aos artistas negros que vieram antes de mim. Dentro de uma perspectiva Afro-surrealista e no desejo de criar uma arte que seja uma expressão “africana da diáspora”, busquei relacionar a ideia de “Encanto” – o mágico – com elementos do meu cotidiano.
A exposição “Uma Certa Enciclopédia” proporcionou um espaço valioso para explorar questões profundas e sensíveis, contando com a colaboração de produções diversas e instigantes dos meus colegas de Casa Tato 9. Com curadoria de Kátia Salvany, uma das professoras que mais me inspirou durante a graduação na Belas Artes, foi uma oportunidade de compartilhar minhas reflexões e visão de mundo com o público diferente, ao mesmo tempo em que celebro e honro aqueles que vieram antes de mim na jornada. Fico profundamente grato por fazer parte desse evento e pela oportunidade de contribuir para essa enciclopédia viva de expressão artística e cultural.
Fotos de Paulo Pereira – Galeria Tato